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Corrida

Quem me conhece sabe que desprezo exercí­cio fà­sico. Ou melhor, admiro quem consegue efectivamente gostar de fazer exercí­cio porque para mim é um sofrimento atroz. Como invento todas as desculpas e mais alguma para não fazer exercí­cio em casa – porque estou em casa e há tantas coisas mais interessantes para fazer – resolvi começar a correr. Não exige equipamento nem espaço nem nada de especial. Instalei o runkeeper só para ter a noção da distância e tempo, comprei uns ténis decentes (leia-se sem buracos) e durante as férias lá ganhei coragem para começar.

Receava sentir-me um bocado parva a correr na rua, com toda a gente a olhar, mas na realidade isso acaba por nem registar. Porquê? Porque estou tão em baixo de forma que ao fim de um minuto toda a minha concentração está focada em conseguir respirar.

Sinceramente não pensei que fosse tão mau. Afinal, eu consigo andar horas a fio sem me cansar, porque é que correr, ainda por cima devagarinho, é tão diferente? Não sei, mas é. Na primeira subida – e esta cidade é composta inteiramente de subidas – estou pronta para cuspir fora os pulmões. Tenho obrigado o meu corpo a continuar até não conseguir mesmo mais e então permito-me andar um bocadinho para recuperar o fà´lego antes de voltar a correr. A falta de ar não é uma grande surpresa, porque tenho talassemia, mas não esperava sentir-me derrotada tão depressa.

No primeiro dia cometi o erro de começar por uma rua super inclinada. Quando cheguei ao topo não aguentava mais e senti-me altamente frustrada por me sentir obrigada a parar de correr (leia-se andar. Recuso-me a parar completamente seja pelo que for). Completei 1 km com muito esforço.

No dia seguinte corri ao longo da praia e já cheguei quase ao km e meio porque era a direito. Passei 3 dias cheia de dores, em particular na anca, algo que não estava à  espera. Não tenho tido dores musculares por aà­ além mas as dores articulares são fortes e demoram uns dias a passar. Espero seriamente que isso melhore.

Hoje escolhi um percurso a direito que sobe um bocadinho mas nada de mais. Completei 1,8 km. Se puxar mais um bocado, dando permissão para andar de vez em quando (posso sempre chamar-lhe interval training) acho que sou capaz de chegar aos 2 km. Já me fazia feliz.

Qual o objectivo disto tudo? Não sei bem. Não é para emagrecer, apesar de ficar feliz se ajudar, nem porque gosto. É mais porque estou com 40 anos (ou a dias de) e passo o tempo cansada. Acho que preciso de forçar o corpo a aguentar mais do que o normal para depois poder fazer um dia rotineiro sem ter de parar para dormir a sesta.

Não sei quanto tempo vai durar esta fase mas arranjei um esquema que é capaz de durar uns tempos: visto o equipamento logo de manhã, levo os filhotes à  escola e vou correr de seguida. Pelo menos até começarem as chuvas deve durar. Durante o inverno é que vai ser complicado.

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3 Comments

  1. Inês says:

    Identifico-me tanto com este teu post, e eu só estou nos 31 e sem filhos! Mas nunca pratiquei exercício físico, o da escola já era tirado a ferros e mesmo assim escapava o máximo que conseguia. Nem é por falta de tempo, porque quanto mais não seja depois de sair do trabalho dava perfeitamente, mas a preguiça é tanta que não me consigo resolver… e andar bastava-me para começar, mas nem para isso tenho motivação…

  2. Flavia PM says:

    Olha, talassemia? Então que és a primeira pessoa em Portugal, que menciona tal coisa. Eu tenho ascendentes na família, não tenho eu a doença desenvolvida, mas transmito o gene. Mas aqui em PT, não consegui que o pediatra da miúda me pedisse os análise para ver se ela tem. Fizeste alguma análise às crianças para ver se elas tem?
    Eu correr, nem pensar, tenho o gajo maluco por corridas desde que descobriu que tinha todos os pré requisitos para ter um AVC, e por sorte não teve, que ficou maluco pelas corridas e o faz a semana inteira e os fins de semana também, a participar em competições.
    Eu ando, rápido que ninguém me consegue acompanhar, mas correr nem pensar!

  3. Flavia, a talassemia minor não é algo muito problemático para o dia a dia mas implica que me canso mais rapidamente e que fico ofegante com pouco esforço. Há atletas profissionais que têm talassemia, logo não é impeditivo de nada, mas requer um esforço extra e possivelmente a aprendizagem de algumas técnicas de respiração mais específicas. Só quando a hemoglobina desce muito é que dou por isso porque canso-me muito facilmente. Se a coisa andar controlada é assintomática. O problema com o controlo é que é um defeito genético e não algo que se possa combater com ferro, como as anemias comuns.

    Não testei as crianças ainda precisamente porque não é um problema grave de saúde. O Pedro é que foi testado antes de termos filhos porque duas pessoas com talassemia minor podem originar uma criança com talassemia major e isso sim, é uma doença com problemas graves.

    No entanto, se fizeres um hemograma normal ficas logo com uma ideia da coisa. Por exemplo, o valor de referencia de hemoglobina normal para uma mulher é entre 12 e 15 e no meu caso nunca passa dos 11.
    O volume globular médo (VGM) é geralmente entre 80 a 97 e o meu está sempre por volta dos 66. Dá logo para perceber que algo não é normal.

    Aliás, uma vez fiz análises de sangue e nos resultados reparei logo que tinham trocado as amostras – tinha um hemograma completamente normal, logo aquele resultado não podia ser meu. Nunca mais usei aquele laboratório.

    Quanto à corrida, tenho tido dores constantes nos joelhos e anca esquerda pelo que me parece que o esforço está a ser um bocado violento demais para começar. Acho que preciso de ir mais devagarinho :/

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