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Not so merry Christmas

Ontem ao jantar recebi uma mensagem do meu pai a dizer que a minha avó Luisa tinha morrido. Em 2004 foi o meu avà´ Jaime que morreu precisamente na vespera de Natal e agora perdi uma avó uns dias antes. Não é que a altura do ano seja particularmente relevante a não ser pelo facto de ficar associada a uma data que é celebrada todos os anos e como tal torna o evento difà­cil de esquecer.

A minha avó era uma pessoa difà­cil e havia muita coisa em que discordávamos, mas a verdade é que passei mais tempo da minha infancia em casa dela do que com os meus pais e não posso dizer que tenha sido mau ou que tenha tido uma infancia infeliz. Acho que pelo contrário, ela deu-nos (a mim e ao meu irmão) liberdade para brincar à  vontade, para desarrumar a casa toda, construir tendas em cima das camas. Foi ela que me ensinou a costurar e a fazer malha, a fazer xailes para as minhas bonecas, e isso teve uma grande influencia no meu interesse por artesanato. Por tudo isso estou-lhe grata.

O afastamento em relação à  minha avó surgiu mais tarde, na adolescencia, pela sua tendencia para julgar os comportamentos das pessoas. Tinha uma visão muito antiquada do que era apropriado no relacionamento entre rapazes e raparigas e que era algo como’ nada de contacto’. Quando comecei a namorar com o Pedro – o único namorado que tive e com quem acabei por casar – foi bastante claro o seu desagrado, não pela pessoa mas porque achava que eu era demasiado nova para namorar. Mesmo assim, mais tarde, quando andei a investigar a genealogia da famà­lia, ainda passei algumas tardes na sua sala de costura a conversar com ela e a ouvir as suas histórias e recordações, algo que ela adorava contar.

Nos últimos anos a sua saúde e principalmente o seu estado mental começaram a desintegrar-se gradualmente. Foi viver para um lar por vontade própria, apesar de posteriormente ter mudado de ideias e querer ir dormir na casa dela ocasionalmente. Das últimas vezes que a vi era uma pessoa completamente alterada, muito magra e já nem sabia quem eu era. Tive pena de a ver assim e assusta-me horrivelmente pensar em acabar da mesma forma.

Tenho muita pena que tenha morrido mas sei que estava na hora e que viver sem conseguir apreciar a vida também não parece justo.

Hoje fui visitar os meus pais, principalmente para ver como estava a minha mãe. Sinceramente não consigo perceber porque ela é como eu e consegue manter aquele ar de quem está bem e ao mesmo tempo estar de rastos sem ninguém dar por isso. Não pode ser fácil perder a mãe, mesmo uma mãe que nos fez a vida negra, porque no fundo todos os filhos querem a aprovação dos pais mesmo que não o admitam. Acho que nestes casos há uma certa tendencia para as pessoas terem alguns sentimentos de culpa mas sinceramente acho que a minha mãe aturou muito mais do que eu conseguiria suportado nestes últimos anos, sempre com uma paciencia e persistencia que eu não sei se teria.

A visita, porém, deu-me mais uma triste notà­cia – a minha outra avó foi hoje para o hospital com uma hemorragia gástrica. Acho que isso arruma de vez a questão do Natal pelo meu lado da famà­lia e só posso esperar que melhore depressa e que não haja mais más notà­cias este ano.

No meio disto tudo, este é o primeiro ano em que o Tiago está verdadeiramente entusiasmado com o Natal e as prendas e eu estou tudo menos com espirito natalà­cio.

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