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The Handmaid’s Tale

Estou a adorar a nova série da Handmaid’s Tale.

Já li o livro há muitos anos e recomendo, (assim como muitos outros livros da Margaret Atwood). Também vi o filme dos anos 80. Mas já passaram anos suficientes para não me lembrar dos detalhes, por isso estou a ver a série quase como uma coisa nova.

A actriz principal, Elisabeth Moss (que muitos conhecem da série Mad Men), é altamente expressiva, o que é muito importante para uma personagem que não pode falar muito. Sem ela a história não teria o mesmo impacto.

O resto dos actores, no geral, também estão bem escolhidos, especialmente Yvonne Strahovski como Serena Waterford, cuja perfeição exterior esconde a sua capacidade para crueldade. É uma personagem que me faz pensar nas anti-feministas que encontro pelo Youtube, que defendem ardentemente que as mulheres não devem trabalhar e deviam ficar em casa com os filhos, esquecendo-se que, se o mundo que elas querem se tornar realidade, vão perder a sua liberdade junto com todas as outras mulheres. Agora pelo menos ainda têm liberdade suficiente para expressar a sua opinião.

Isso leva também à  questão das chamadas “traidoras de género”, que na série são as lésbicas. Na verdade as traidoras de género são as mulheres dos comandantes e as “tias” que oprimem e torturam as outras mulheres para as manter na linha. São essas pequenas ironias que passam completamente ao lado das personagens e que mostram como os mais convictos, aqueles que acreditam verdadeiramente nas suas causas, aqueles que sabem sempre o que seria melhor para toda a gente e que e fossem eles a mandar é que isto entrava na linha, são muitas vezes os mais perigosos.

O livro já é antigo mas continua relevante. Os conservadores e extremistas de direita que estão actualmente no poder em diversas zonas do mundo, nomeadamente nos Estados Unidos onde a história se passa, e que querem matar e oprimir todos os que não forem homens brancos mas depois choramingam que não têm liberdade de expressão, é exactamente o tipo de ralé capaz de levar a cabo um futuro como este.

Uma das coisas que a série tem de interessante é precisamente mostrar como é que o paà­s chegou à quela triste situação. A apatia da população, que vai aceitando as mudanças confiante que a coisa não vai durar para sempre é a mais pura realidade. E quando isso não chega, Basta matar uns quantos e o resto cala-se. Como é que acham que a escravatura durou tanto tempo? Mata-se um à  chicotada e os outros fazem o que lhes dizem, com medo do mesmo destino.

Por fim, e para quem acha que aquilo é tudo um exagero, a única coisa fantasiosa em toda a história é a forma como as mulheres de todo o mundo perdem de repente a capacidade reprodutora. Margaret Atwood, a autora do livro, confirmou que todas as atrocidades cometidas no livro foram retiradas de momentos da história humana, em muitos casos justificados pela religião. Nem é preciso muita imaginação, basta boa pesquisa.

A história do livro termina, não no fim da primeira season mas sim no primeiro episódio da segunda. Estou curiosa para ver como a série progride, agora que deixa de ter o livro a orientar os acontecimentos. Espero que os escritores consigam continuar o nà­vel de qualidade demonstrado até aqui, com a mesma subtileza.

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