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A estupidez do referendo da co-adopção

Não costumo falar de questões polà­ticas. Normalmente tento não pensar muito nisso porque a estupidez é tanta e a minha capacidade de mudar seja o que for é tão inexistente que passava os dias com uma raiva difà­cil de conter. No entanto, de vez em quando há algo tão absurdo e que me causa tanta revolta que tenho de desabafar.

Cada vez que acho que o nosso paà­s está a avançar um bocadinho, aparece uma destas.

Então é assim: o estado gastou tempo e dinheiro a estudar um assunto que considerava importante. Foi diagnosticada uma injustiça social que necessitava de ser corrigida, foram ouvidos especialistas e formulada uma alteração à  lei. Essa lei foi votada e aprovada. Toda a gente está feliz, celebra-se mais um avanço dos direitos humanos em Portugal.

Ah, espera. O PSD, o nosso actual governo, cujo maior problema desde o inà­cio tem sido a luta contra a despesa interna, resolveu que este assunto devia ir a referendo. Ou seja, depois de ouvir a opinião de pessoas que percebem do assunto e chegar a uma conclusão que foi votada e aprovada, resolveram ignorar isso tudo e ir antes pedir a opinião aos Manéis e à s Marias que não sabem do que se está a falar e a quem o assunto nem sequer diz respeito.

O PSD obrigou então toda a gente do partido a votar a favor do referendo, mesmo contra a sua opinião e consciência, levando pelo menos uma pessoa a demitir-se. Mesmo não tendo votos a favor de mais ninguém e perceberem que toda a gente achava o referendo uma estupidez, avançam à  mesma. Porquê? Porque é uma distracção. Enquanto se fala disto eles metem mais uns cobres ao bolso e ninguém dá por nada. Dá-lhes jeito.

E é preciso não esquecer que fazer um referendo custa dinheiro, mais dinheiro que o estado não tem. Mas independentemente do custo, é irresponsável e absurdo fazer um referendo sobre uma questão de direitos humanos. Abre um péssimo precedente.

Então e se amanhã um partido que se diz conservador resolve, por exemplo, que dantes é que era bom e as mulheres deviam ficar em casa em vez de terem o direito de trabalhar, vamos lá a referendo. Acham que isso ia acabar bem? Com o machismo que ainda prevalece na nossa sociedade? Ou imaginem que decidem que a escravatura até era uma coisa que dava jeito. Há malucos para tudo. A função do estado deve ser defender os direitos dos cidadãos, em particular das minorias, mesmo contra os preconceitos da mentalidade dominante. Dar a voz ao povo é muito bonito em teoria mas a verdade é que se não lhes toca pessoalmente, o cidadão comum não tem cultura ou informação suficiente para tomar uma decisão lógica e racional sem ser baseada em preconceito.

E vamos lá falar então do assunto da co-adopção propriamente dito, uma vez que me parece que há uma grande confusão à  volta disto.

A adopção de crianças por casais do mesmo sexo não é permitida por lei no nosso paà­s. É errado mas havemos de lá chegar. Esta lei não se refere a isso.

Esta lei da co-adopção refere-se a casos muito especà­ficos em que um indivà­duo já tem um filho, seja biológicos seja adoptado, e vive com outra pessoa do mesmo sexo que para todos os efeitos práticos já se comporta como pai ou mãe desta criança no dia a dia mas sem ter os mesmos direitos.

Como exemplo, vamos dizer que uma senhora chamada Vera teve  um filho chamado Francisco. O Francisco não tem pai. Não interessa porquê mas é um dos factores que a lei considera necessários para permitir a co-adopção. A mãe Vera casa-se com uma senhora chamada Helena. Ambas tomam conta do Francisco, levam-no à  escola, fazem-lhe o jantar, etc. Se por azar a mãe Vera morre, o Francisco, que não tem pai, é retirado aos cuidados da Helena pelos serviços sociais porque a Helena, que na prática era a segunda mãe do Francisco, não tem quaisquer direitos efectivos sobre a criança. Ou seja, vão retirar uma criança de um ambiente familiar estável, onde vivia com uma pessoa que gostava dele e o tratava bem para ser enfiado num centro de acolhimento para órfãos. Vão causar sofrimento desnecessário a uma criança por causa de uma mentalidade mesquinha. Alguém acha isto correcto?

É só isto. É uma questão de defender os direitos destas crianças. Querem-lhes tirar isso porquê?

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2 Comments

  1. augusto santos says:

    E a cegueira do 25 de Abril está alastrando…
    (a cegueira do PS , o errado oportunismo eleitoral do PSD e os “maricas” do CDS)
    A CO-ADOPÇÃO – Como defender os Direitos das Crianças . Como defender os Direitos das Minorias segundo Isabel Moreira … esta fofa Isabel do PS virou fufa e deixou o marido .
    Suponhamos que este hibrido é fertilizável e decide produzir um filho “in-vitreo”.Entretanto casa com a fufa Maria. Duas mães . Pai omisso . A fufa Maria co-adopta este menor o que faz cessar todos os laços familiares do menor com a família de Isabel (vd. Lei da Co-adopção) . Entretanto a Isabel falece . Posteriormente falece o ex-avô Adriano , pai de Isabel . Assim , o menor já não herda a fortuna do ex-avô Adriano . E mesmo que herdasse , haveria sempre o perigo desta fortuna ser desbaratada pela fufa Maria que entretanto havia encetado relações duvidosas , pondo até em perigo não só aquela fortuna como também o próprio menor. Chama-se a esta chafurdice “defender os Direitos das Crianças” !…
    Abre Núncio !!!

    1. Não vejo como é possível querer ser levado a sério com um comentário tão confuso e cheio de insultos que demonstram apenas o seu preconceito, falta de respeito e falta de civismo.

      Da grande confusão mental que demonstra o comentário acima, tenho apenas a referir que a lei da co-adopção não pretende nem permite “cortar laços” com os familiares vivos. É feita precisamente para aqueles casos em que não existem mais familiares, dando assim uma protecção familiar a crianças que de outra forma seriam consideradas orfãs e enfiadas numa instituição, apesar de terem alguém que já é, para todos os efeitos práticos, família.

      Para além disso, a lei prevê também que se a criança tiver mais de 12 anos, ou seja, uma idade em que já tem noção do que se passa à sua volta e capacidade de expor a sua vontade de forma coerente, tem de autorizar a adopção.

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