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O quase incêndio

Já estou farta de referir como os meus vizinhos de cima são barulhentos. Descobri recentemente, porém, que o barulho não é exclusivo a quem vive mesmo por cima de mim e que os do outro lado são iguais. Aliás, numa atitude que me irrita solenemente, cada vez que os meus vizinhos do lado se sentem incomodados com o barulho que vem de cima resolver tocar à  minha porta para se vir queixar – dos outros. Não compreendo inteiramente a atitude. Parece que não têm coragem de ir incomodar quem os incomoda a eles mas acham perfeitamente normal incomodar-me a mim só para poderem dizer mal dos outros. Aliás, a raiva aos vizinhos do lado, que também começou por causa do barulho, desta vez das obras que fizeram há um ano antes de se mudarem e que durou mais de 4 meses, incluindo fins de semana, não tem melhorado. O homem em particular, que é um saloio de primeira, já me entrou pela casa com o electricista para vir ver como estava montado o nosso intercomunicador mas depois quando nos vê na rua age como se não nos conhecesse. Nem sequer responde ao bom dia da praxe. A única coisa que sabe fazer ultimamente é meter conversa com outros vizinhos para dizer mal dos já referidos.

É claro que os vizinhos de cima são irritantes. São uma carrada deles – mãe, pai, duas filhas gémeas, avó e sei lá mais quem – e ainda por cima gostam de dar festas ao fim de semana. No sábado à  noite estava alguém aos saltos na sala e consegui ver finalmente os candeeiros a abanar, tal como a nossa vizinha de baixo gosta de referir quando se vem queixar do subwoofer 🙂

Mas porque não quero ser como a velha de baixo, não vou bater à  porta dos vizinhos nem chamo a policia. Porque afinal, e é aqui que discordo com os tipos do lado, as pessoas têm o direito de fazer algum barulho ocasionalmente. Seja a fazer uma festa, seja a ver um filme ou a ouvir música mais alto, desde que seja antes das dez da noite é mesmo assim. É irritante mas é a vida.

É claro que irrita quando aspiram o quarto à s 9 da manhã de sábado quando estamos a tentar descansar um bocadinho mais, quando passam o tempo a bater com portas e arrastar móveis que fazem disparar o angelcare ou quando vão discutir ou falar ao telefone para o quarto à s 2 da manhã.

Mas aquilo que ainda me faz mais confusão são os gritos. A tipa de cima grita de uma forma completamente histérica que se ouve no prédio todo. Há dias em que só desejo que se matem depressa para ter silencio. Nem quero imaginar o que esta gritaria diária vai fazer ao Tiago.

Mas se já ninguém no prédio suportava estas duas familias particularmente barulhentas, já que parece que os do lado são iguais, com miudos a andar de skate pela casa e musica alta a noite toda, a gota final foi no sábado à  noite.

Estava eu a jantar quando o Pedro me foi chamar a dizer que estava qualquer coisa a arder numa das casas do lado. Acabámos por perceber que era o estendal dos vizinhos de baixo. Aparentemente alguém deitou um cigarro aceso pela janela e incendiou a roupa estendida que ardeu completamente, tendo voado diversos bocados em chamas  que ninguém sabe bem ondeforam parar. Felizmente os donos da roupa estavam em casa e apagaram o resto das chamas com uma panela cheia de água mas podia ter sido muito pior já que os bocados que voaram poderiam ter entrado pela janela aberta de qualquer pessoa.

Acho que ficou estabelecido que foram os tipos de cima que atiraram o cigarro e estiveram montes de vizinhos na escada a discutir o assunto, vieram os bombeiros, etc.

O resultado disto é que se estes tipos já eram considerados incómodos agora passaram a perigosos e já ouvi um grupinho a conspirar à  entrada do prédio sobre como o assunto tem de ser discutido na próxima reunião de condominio. Basicamente não vão desistir enquanto as pessoas não se forem embora, o que não é assim tão impossivel porque a casa não é deles, é alugada.

Depois de presenciar isto tudo tenho a certeza que há uns anos fomos nós o foco deste tipo de atenção graças à  colocação do ar condicionado. Tinhamos pessoas a tocar-nos à  porta e a meter cartas no correio com ameaças por ter o ar condicionado a pingar para a rua. É claro que ao contrário dos tipos de cima, nós não gostamos de incomodar ninguém e acabámos por fazer obras para resolver a questão, mas uma pessoa sente-se um bocado atirada aos lobos.

E quanto ao barulho, grande parte do problema deve-se ao facto do prédio não ter isolamento nenhum. Acho que as pessoas nem se apercebem do que se ouve e muitas vezes nem estarão a fazer um barulho exagerado. Em algumas circunstancias nem é preciso levantar a voz para se ouvir a conversa na casa do lado. E já diversos vizinhos tiveram musica alta, obras, discussões, etc, mas o barulho deles nunca conta. É óbvio que toda a gente faz barulho. Aquilo que se espera é que não seja todos os dias nem a horas indecentes, que é o caso dos tipos de cima, que fazem de facto uma barulheira excepcional, mas fico dividida entre a irritação que o barulho me causa e a certeza de que só se resolve isolando a casa, algo que neste momento não podemos pagar.

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2 Comments

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  2. Por cima de mim mora uma família com um miúdo que não pára de fazer barulho. Acorda cedo, tipo 6h da manhã e põe-se a atirar coisas ao chão durante horas e sem tréguas – o que já me fez interrogar vezes sem conta como é possível e se o puto não é algum mutante cheio de tentáculos.

    Adoro o silêncio mas suporto bem ruídos, desde que não me tirem a concentração. E estes tiram. Numa ocasião, a um Sábado, após regressar do trabalho, encontrei familiares em casa, exaustos do barulho. Subi o lance de escadas e alertei a família para o barulho de “coisas a cair” que se ouvia como “chuva de chumbo” no andar de baixo. Eles ficaram constrangidos e a coisa ficou por aí.

    Mas o barulho continua. Aguento o arrastar de móveis – já não me incomodam por aí além. Aguento durante uns 15m os tamancos dos sapatos. Aguento ouvir vozes – isso não incomoda. E até sei que têm boas bexicas pelo tempo que levam a terminar de urinar. Mas coisas a cair em cima da minha cabeça, é demais! Mesmo! Ainda mais ás 6h da manhã…

    Já pensei se vou ter de esperar o puto crescer para ver estes ruídos cessarem e esperar pelos novos vícios incomodativos que vai desenvolver. Numa ocasião, na sala, começamos a escutar ruídos fortes de coisas a cair e a parecer partir e, como era inverno, pensámos tratar-se de chuva forte a bater nos vidros devido ao vento. Mas não. Era o puto a “brincar” por cima do quarto de dormir, que fica bem afastado da sala. É comum ter de sair da divisão por ser insustentável. Consegui gravar o ruído e pensei em ir lá acima partilhá-lo com os vizinhos, para entenderem do que se trata e que não é implicância. E um gravador nunca apanha o som como os nossos ouvidos. Se é impressionante na gravação, imaginem ao vivo. Parece mesmo chuva, trovoada…

    Na minha casa trabalha-se em horário normal e em horário de turnos com folgas rotativas. Se alguém faz muito barulho por muito tempo, ainda que em dias e horas ditas aceitáveis, acaba por prejudicar o rendimento e a saúde. Uma vez dormi apenas 30 minutos, estava exausta e até cheguei a chorar por privação de sono. Isto nem sequer deve passar na cabeça dos vizinhos barulhentos, mas acontece.

    Compreendo o que diz e entendo que entre na defesa do direito a algum ruído. Ás vezes, o ruído é normal, mas escuta-se bem, é verdade. Só que até isso temos de levar em conta. Reparei que a geração dos meus avós, a este respeito, resolviam as coisas com muita mais decência. Eles não ficavam com receio de incomodar os vizinhos. Eles ouviam o barulho, esperavam um tempo decente e depois iam queixar-se. E os vizinhos acatavam e, se fossem decentes, reduziam o barulho. E vice-versa. Nesse tempo as pessoas falavam abertamente, confrontavam-se e resolviam as coisas. Não esperavam pela reunião de condonimos… eram mais decedntes, mais vizinhos, falamos uns com os outros e partilhavam um pouco de farinha, de açucar, de arroz… e aí respeitavam-se mais.

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