Como chegou o aviso para pagar a inscrição da escola do Tiago para o próximo ano, fui saber se dava para inscrever a Joana também. Descobri que a creche está cheia e vai ser muito complicado arranjar lugar para ela.
Como meter ou não a Joana na escola está directamente relacionado com o meu tempo livre e possibilidade de fazer mais alguma coisa na vida para além de babysitting não remunerado, estive a avaliar a minha situação – design, bijutaria, contas da nitro, etc – e cheguei à conclusão que todo o esforço que andei a fazer nos últimos anos para manter a empresa a funcionar, conseguir pagar os impostos, segurança social, uns troquinhos de salário, alojamento dos sites, etc, foi todo por água abaixo neste último ano.
Tenho andado num stress tremendo a enfrentar a situação de ter de deixar a minha bebé sozinha na creche daqui a pouco tempo, depois de andar a tratar dela praticamente 24 horas por dia durante um ano, mas também porque sinto que no primeiro dia em que ela ficar na escola eu tenho imediatamente que ter um emprego que pague tudo isso.
Comecei a pensar seriamente na hipotese de fechar a empresa. Tenho-a mantido aberta porque sempre vou descontando para a segurança social todos os meses, contando assim como tempo para a reforma, continuo a poder passar facturas do trabalho de design e também das vendas de bijutaria. Grande parte do dinheiro vai para impostos – PEC e IVA – mas já tinha um sistema que me permitia ir mantendo a coisa a flutuar, apesar de saber que nunca iria enriquecer assim. A opção seria recibos verdes mas o valor da segurança social é tão alto para depois não contar para nada em termos de tempo de serviço que não compensa.
Aliás, os pagamento obrigatórios tanto para micro-empresas como para recibos verdes – ou seja, aquelas pessoas que estão a tentar criar o seu próprio posto de trabalho e que deviam ser incentivadas em vez de castigadas – são absurdos. Como fiscalizar os grandes dá trabalho e demora tempo, toca a penalizar aqueles que não têm grande coisa mas estão a tentar sobreviver sem ter de pedir nada a ninguém. É a maior reforma que o estado precisava de fazer – aprender a fiscalizar em vez de passar o tempo a aumentar os impostos à classe média que paga sempre e cada vez tem menos.
Desde o verão passado, com as obras, mudança e nascimento da Joana deixei de ter tempo para actualizar a loja, fazer peças novas, tirar fotos, etc e o negócio da bijutaria estagnou. Continuo cheia de ideias e materiais mas pouco tempo. As únicas coisas que tenho feito ocasionalmente são encomendas personalizadas.
Sinto que com mais tempo e persistencia consigo voltar pelo menos ao ponto onde estava mas a dúvida é se tenho esse tempo antes de se acabar o dinheiro. Já me sinto culpada por deixar a Joana sozinha durante o tempo necessário para por a loiça na máquina, quanto mais se me ponho efectivamente a tentar trabalhar enquanto ela anda pelo chão a meter na boca tudo o o que encontra.
Outro problema é que ando cheia de sentimentos de culpa porque sinto que devia conseguir fazer tudo ao mesmo tempo e que estou a falhar. Afinal não é isso que as mulheres modernas é suposto fazerem? Quando andava na faculdade nunca me ocorreu que alguma vez fosse ficar em casa a tomar conta de crianças – aliás, até aos 30 anos defendia insistentemente que não queria ter filhos, quanto mais ser responsável por eles a tempo inteiro. E por muito que adore os meus filhos admito que só os tive porque comecei a pensar que mais tarde poderia arrepender-me se não os tivesse e seria tarde de mais. Antes arrepender-me por fazer algo do que por não o fazer.
Agora que sou uma dona de casa glorificada, sinto por vezes algum preconceito por parte das mulheres que vão todos os dias para o seu emprego e que ocasionalmente largam comentários do tipo ‘até porque ela está em casa todos os dias, não é como se tivesse que ir trabalhar’. Eu sei que essas mulheres ainda têm todas as tarefas domésticas à sua espera quando chegam a casa ao fim do dia de trabalho mas sinto-me um bocado ofendida pela implicação que estar em casa consiste em passar os dias a limar as unhas e ver telenovelas e tenho muitas vezes a necessidade de me justificar e explicar o que raio é que faço o dia todo para estar tão ocupada, o que é absurdo e irracional.
Por causa desse sentimento de culpa ontem até andei a ver anuncios de emprego e fiquei espantada com o que encontrei. Os vencimentos oferecidos andam todos à volta de 500 a 600 euros, 250 para part time (uma das opções que considerei). Quem é que sobrevive assim? Comecei a pensar que faço mais dinheiro ficando em casa a fazer brincos do que a ter que ir todos os dias gastar dinheiro em almoços e transportes para ganhar uma ninharia que nem paga a creche da miúda. Ouch!
É que uma das vantagens de estar em casa é que não gasto dinheiro quase nenhum. Só vou ao cabeleireiro uma a duas vezes por ano, Fui recentemente comprar roupa mas não o fazia desde que precisei de roupa de grávida, a comida é comprada no supermercado e cozinhada em casa por isso também não custa muito e já poupei 1500 euros em creche (and counting). Ou seja, financeiramente, não é uma escolha tão absurda como possa parecer à primeira vista.
Optei por ficar em casa pelo menos um ano com cada um dos meus filhos porque achei que era bom para eles estarem com a mãe. Sei que isso só foi possível porque o Pedro se mata a trabalhar e porque temos imensa ajuda da famàlia. Sei que para a maior parte das mães é uma necessidade por as crianças na creche logo ao fim de 4 meses e é pena que no nosso paàs assim seja. Eu tive essa opção porque já estava em casa de qualquer forma e achei que iria conseguir continuar a fazer qualquer coisa, pelo menos enquanto eles dormiam sestas. Fui um bocado estúpida por pensar assim mas não posso dizer que me arrependa inteiramente porque eles crescem num instante e deixam de precisar de nós da mesma forma.
O Tiago foi para a escola aos 18 meses porque era muito tàmido, estava demasiado isolado e não interagia bem com os outros. Na altura achámos que a escola lhe ia fazer bem e de facto fez, apesar dessa tendência para se isolar se ter mantido – tem um grande amigo e ignora todos os outros miúdos.
A Joana parece-me mais sociável e tem o irmão com quem brincar em casa mas mesmo assim será importante a certa altura começar a lidar com crianças da mesma idade. Pode não ser este ano mas quanto mais tempo esperamos mais complicada será a adaptação.
E eu vou ter de respirar fundo, fazer uma lista e começar a lidar com uma coisa de cada vez.