As nossas duas gatas em miniatura conseguem finalmente saltar para a bancada da cozinha. Era a última barreira. Isto quer dizer que agora chegam a qualquer lado e nada está seguro.
Como os gatos pequenos não são particularmente intuitivos no que diz respeito à sua segurança pessoal (leia-se tendência para roer fios eléctricos) tudo o que tinhamos passado para a prateleira de cima deixou de ter protecção garantida. É geralmente nesta faze que me partem os snow globes, arrancam e comem posters pendurados nas paredes, etc.
A segunda mania é que ao contrário dos outros gatos todos estas gostam de ver televião. A Scully também acha piada ocasionalmente quando há uma bolinha a mexer no ecrã, mas estas é com tudo. Sentam-se em frente ao plasma e vão dando patadas no ecrã.
Aliás, a Buffy está neste preciso momento sentada em frente ao meyu monitor a seguir as letrinhas que vão aparecendo enquanto escrevo. Como só vejo orelhas de gato, perdoem-me se o texto estiver todo trocado.
A pior parte é que estão a ficar muito mal educadas. São tão giras mesmo a fazer asneira que não me consigo chatear com elas. Grito ‘não’ de vez em quando mas acho que elas percebem que é só ameaça e não ligam nenhuma.
O barulho das obras continua na mesma. Todos os dias à s oito e meia começam a martelar, etc. Hoje está impossível no escritório. Parece que estão a destruir a parede que separa as nossas duas casas e vão entrar por aqui fora a qualquer momento. O chão treme, a mesa também e só me apetece gritar (o que chego a fazer ocasionalmente). Ainda só os vi uma vez e já odeio os nossos novos vizinhos profundamente.
Para fugir ao barulho fui dar as voltas burocráticas do costume, já que estamos novamente em mês de pagar o IVA. Estava montes de gente nas finanças. Eu até esperei pelo final do prazo para comprar o selo do carro mas há sempre uns atrasadinhos e depois há as pessoas que, como eu, resolveram esperar pelo fim do mês para ir lá tratar de coisas. Eu até podia pagar isto no multibanco mas gosto mais do selinho que eles colam na declaração a dizer que paguei do que ter que agrafar um papel do multibanco. É menos uma porcaria e geralmente não costuma estar lá ninguém. Depois fui pagar a garagem onde me deram uma chave nova e fui ao correio levantar uma encomenda.
Quando entrei no correio estava uma senhora de 80 anos sentada. Informou-me imediatamente que era ‘a seguir à quela senhora’. Disse ‘ok’ e fiquei na fila. Quando só faltavam duas pessoas a senhora começou a ficar nervosa e levantou-se para ocupar o seu lugar. Tive de lhe garantir que não ia passar à frente e até lhe disse que a chamava quando fosse a sua vez. Na realidade irritam-me pessoas que passam à frente. Estão sempre com muita pressa e são sempre mais importantes do que o resto do mundo. Eu não tenho problemas nenhuns em esperar a minha vez e também não vejo mal nenhum em ter a senhora de 80 anos sentadinha até chegar a vez dela. Mas acho que devo ser a excepção à regra num mundo em que é cada um por si.
Acho que era bom podermos confiar nos outros, sentir que somos da mesma espécie e como tal podemos contar com outras pessoas. Mas a prova é sempre em contrário, razão pela qual é mais fácil desconfiar primeiro e só dar o benefàcio da dúvida quando alguém prova que o merece. É triste mas é assim que o nosso mundo funciona.