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Compras

A minha filha de 9 anos já veste roupa de adulta – o tamanho S ou XS mas já fora da secção de criança. Isso quer dizer que vamos começar a vestir de igual mais vezes porque temos o mesmo gosto nalgumas coisas.

Como a Joana já está numa idade em que quer escolher a roupa que gosta e já não tinha quase nada que lhe servisse, fomos à s compras. O estilo dela já há algum tempo que mudou de vestidos de princesa para roupas largas em tons escuros. Terá alguma influência minha, que me visto quase sempre de preto, mas não propositadamente.

Eu aproveitei para comprar uma ou duas peças para mim mas quando se tem pouco tempo para andar a entrar e a sair do provador a coisa é complicada. O mesmo número de duas marcas diferentes pode estar-me largo ou apertado. Porque é que as marcas agora acham que os tamanhos são só sugestões e podem fazer o que quiserem? Não era suposto haver um standard para estas coisas? Assim é muito complicado perceber que tamanho é que visto.

Foto de Artem Beliaikin

Hobbies, entretenimento e criatividade

Sempre tive muitos hobbies. Sou incapaz de estar parada. Até ver televisão, já por si uma actividade de tempos livres, me parece uma perda de tempo se não estiver a fazer outra coisa ao mesmo tempo. Desde wire wrapping a dobrar roupa, há sempre outra tarefa concorrente.

Hoje em dia, graças à s tablets que se tornaram parte do nosso dia a dia, é comum estarmos com dois ecrã ao mesmo tempo. A tv ligada e o iPad no colo com um joguinho qualquer. Os jogos põe-nos a ver anúncios para ganhar moedas e nós vemos o anúncio (ou fingimos que vemos mas na verdade olhamos para a tv), para poder jogar mais um bocadinho.

Não sei se é perda de tempo a dobrar, se nos estamos a tornar demasiado exigentes com a procura de entretenimento, se o medo do aborrecimento é tal que não queremos correr o risco de o sofrer nem que seja por um segundo ou se isto é uma forma de treinar o nosso cérebro a evoluir ou simplesmente para contrariar o sono e cansaço e aguentar só mais um bocadinho.

O campo dos conservadores defende sempre que os ecrãs estão a destruir a capacidade de concentração da juventude, que os jogos são maus, que as pessoas estão cada vez mais alheadas da realidade. Têm tendência a ignorar os lados positivos da tecnologia a favor dos potenciais riscos. Não digo que não haja um perigo de dependência causado por estes dispositivos. É como tudo na vida – sempre em moderação. Mas continuo a achar que o panorama nunca é tão negro como alguns levam a crer.

Graças à  tecnologia conseguimos comunicar com pessoas do outro lado do mundo, que de outra forma se calhar nunca terà­amos vindo a conhecer. Com os jogos as crianças ganham coordenação motora, capacidade de raciocà­nio e resolução de problemas e resistência à  frustração – quando se morre 50 vezes no mesmo nà­vel é preciso desenvolver paciência.

No meu dia a dia tenho muitas alturas em que um trabalho repetitivo, como tratar fotos para o site, por exemplo, se torna demasiado monótono e só música de fundo não chega para manter a minha atenção e nà­vel de energia. Mas se ligar a tv e estiver entretida a seguir uma história, consigo continuar a fazer a tarefa chata durante mais tempo sem me sentir tão cansada ou com vontade de parar. o cérebro precisa de estar ocupado para manter o interesse nas tarefas.

Do meu ponto de vista, enquanto pessoa criativa, a maior desvantagem da falta de “aborrecimento” é que as ideias geralmente ocorrem quando não temos mais nada em que pensar. Mas mesmo na nossa vida rodeada de imagens, cor e movimento, ainda há alturas em que não temos nada para nos entreter – como antes e depois de adormecer, no duche, etc. Muitos criativos conhecem a sensação de acordar de manhã com a solução para o problema do dia anterior. Podemos treinar o nosso cérebro, até certo ponto, a usar os tempos mortos e de descanso para trabalhar nos problemas criativos.

Quando isso não chega, nada melhor do que agarrar num papel e num lápis e rabiscar um bocado, sem distrações. É como disse antes, tudo em moderação. à€s vezes é mesmo preciso desligar. Aquilo que é visto por alguns como “perder tempo” para a mente criativa é por vezes uma necessidade. Muitas vezes a criatividade nasce do aborrecimento e também é preciso algum tempo de paz e sossego para conseguir pensar em nada até a faà­sca surgir.

English:

Hobbies, entertainment and creativity

I’ve always had a lot of hobbies. I can’t sit still. Even while watching tv, in itself a spare time activity, it feels I’m wasting my time unless I’m also doing something else. From wire wrapping to folding laundry, there’s always some other task going on.
Nowadays, thanks to the tablets that have become a part of our daily lives, it’s common to handle two screens at once. The tv is on and we’re also playing some game on our iPads These games make us watch ads to gain coins and so we watch the ad (or pretend to watch it while looking at the tv) so we can play a little longer.

I don’t know if we’re wasting time twice, becoming too demanding with our entertainment, if our fear of boredom has become so great we don’t want to risk even a second of it, or if it’s actually a way to train our brain to evolve or simply a way to fight against tiredness and hold on a little longer.

Conservatives defend that screens are damaging youth’s capacity for concentration, that games are bad, that people are growing further detached from reality. They have a tendency t ignore the good sides to technology in favour of potential risk. I’m not saying there isn’t a possibility of addiction to technology. Like everything in life, moderation is key. But I still feel the future isn’t as dark as some would have us believe.

Thanks to technology we can communicate with people on the other side of the world, people we probably would never have even met otherwise. through games children learn hand-eye coordination, develop thinking and problem solving skills and even resistance to frustration – you have to, after getting killed on the same level fifty times.

Many times during my daily activities there are repetitive tasks, like treating photos for my website, for example. It becomes too dull and even background music is not always enough to keep me focused. But if I turn on the tv and follow along to a story, I can keep my energy levels up for longer and continue working.

From the point of view of a creative person, the biggest disadvantage of this lack of “boredom” is that ideas come when you’re not really thinking about anything. But even in our image, colour and motion-filled lives, there are always times when we have nothing to entertain up – like before going to sleep and before getting up and when we shower, for example. Many creative people know the feeling of waking up with the solution from yesterday’s problem. We can train out brain, to some extent, to use downtime to work on creative problems.

And when that’s not enough, nothing beats spending some time doodling on a piece of paper sometimes with no other distractions. Link I said before, everything in moderation. Sometimes you do need to disconnect. What may look like a waste of time for some is actually a necessity for creative people. Sometimes creativity is born out of boredom and we need to give our brain some downtime for the spark to ignite.

Fundição em osso de choco

O osso de choco é composto por um material mole e fácil de esculpir, tem uma textura interessante e aguenta a temperatura do metal em fusão.
A técnica de fundição em osso de choco permite a criação de peças com esta textura única sem necessidade de nenhuma ferramenta especial, para além de um maçarico que consiga chegar à  temperatura necessária para manter o metal là­quido durante o processo.

Preparação do osso de choco

É preciso começar por escolher um osso de choco com grossura suficiente para permitir ser serrado ao meio. Se for muito pequeno não terá massa suficiente para serrar e esculpir.
A partir deste momento, recomendo o uso de máscara de pó enquanto se trabalha com o osso de choco.
Primeiro começa-se por cortar as duas pontas e um pouco das laterais de forma a obter uma forma rectangular.


Depois abre-se o osso ao meio, com a serra de joalheiro, ficando com duas metades idênticas.\r\nColocando uma folha de lixa de grão 600 sobre a mesa, esfrega-se o interior do osso de choco sobre a lixa para alisar e retirar as marcas da serra.

 

Usa-se um pincel para retirar o pó e tornando a textura mais visà­vel e guarda-se uma das metades do choco para mais tarde.
Planeia-se o desenho a escavar na outra metade. Eu usei uma moeda para servir de molde e marcar dois cà­rculos. Marca-se a forma com uma agulha, uma faca ou a ponta de uma lima. Podem usar-se várias ferramentas para esculpir o osso que tem uma consistência que faz lembrar o esferovite. Eu usei uma faca tipo canivete, limas e lixa.

Como incluà­ dois cà­rculos num só osso, escavei um canal largo entre os dois para o metal correr sem impedimentos até ao fim.
No cà­rculo de baixo abri também uns canais até ao topo, para o ar sair quando entrasse o metal. É um passo muito importante se queremos que o metal encha completamente o molde.

Depois de escavar a forma pretendida, abre-se também uma espécie de funil no topo, para que o metal entre livremente, sem arrefecer demasiado antes de chegar ao fim da forma. Este funil tem de ser feito em ambas as metades do choco, apesar de ser mais importante do lado que foi escavado.

Por fim unem-se as duas metades e amarram-se com fio de ferro.
O osso de choco tem de ser estabilizado na vertical, com a entrada, onde foi escavado o funil, virada para cima. Pode ser preso num torno ou entre duas bases de soldar. Seja como for, convêm que a mesa por baixo do osso de choco esteja protegida, ou por uma chapa de aço ou por uma base de soldar, porque há sempre o risco de algum do metal em fusão escorrer para fora do molde.

Fundição

Depois derrete-se o metal num cadinho. Um maçarico com mistura de gás e oxigénio é o ideal para que a temperatura suba rapidamente e mantenha o metal quente até verter.
Com cuidado, verte-se o metal là­quido do cadinho para dentro do osso, num movimento rápido, prestando atenção para não deitar mais do que o molde aguenta. Quando começa a ocupar o espaço do funil, é preciso parar.

Depois abre-se o osso de choco para ver se a fundição foi bem sucedida. Um osso só dá para uma única fundição porque fica queimado por dentro. Se correr mal é preciso preparar um novo.

Boa sorte e acima de tudo, divirtam-se!
Para terminar deixo-vos aqui fotos de algumas peças que fiz com fundição em osso de choco. Espero que gostem!

English:
Cuttlefish bone casting

Cuttlefish bone is made from a soft material that’s easy to carve, it has an interesting texture and can withstand the high temperature of molten metal.
Cuttlefish bone casting allows you to create metal pieces with a unique texture without any specific tools apart from a torch that can reach the necessary temperature to keep the metal in liquid form during the process.

Preparing the cuttlefish bone

You must choose a cuttlefish bone that is large enough to be cut in half. The smaller ones don’t have enough material to cut and carve.
From this point on, I recommend the use of a dust mask while handling the cuttlefish bone.
You start by cutting off both pointy ends and a bit from the sides as well, to achieve a rectangular shape.
Then you saw the bone into two equal halves. All the cutting is done with a jeweller’s saw.
Placing a 600 grit sheet of sandpaper on the table, you now need to sand down the inside of each half to smooth them out and remove any saw marks.
You can use a paintbrush to remove loose dust, bringing out the texture. and then put aside one of the halves for later.
Plan what you want to carve onto the other half. I used a coin to mark a couple of circles on this one. You can use a needle, a file or a small knife to mark the lines and carve into the cuttlefish bone. The bone has a texture similar to styrofoam and is easily carved. I continued using a knife, files and sandpaper to perfect the shape.
Because I had two separate circles, I carved a large channel between them so the metal could flow down freely and fill the entire shape.
Out of the lower circle I carved some thin channels leading to the top, so the air could escape when I poured the metal. This is an important step to ensure the metal fill the whole shape.
After carving the desired shape, you still need to carve a sort of funnel at the top where you plan to pour, so the metal has a big opening and touches less material as it flows. This prevents the metal from cooling too fast before it reaches the bottom of the shape.
This funnel should be done on both halves of the cuttlefish bone but is more important on the carved side.
The final step is to join both halves and secure them with binding wire.
The cuttlefish bone must then be held steadily either on a vice or between two soldering blocks, with the opening (where you carved the funnel) facing up. Either way, make sure to protect your table, under the bone, with either a steel sheet or a soldering surface because the metal can sometimes overflow.

Casting

Melt your metal on a crucible with a torch. A gas/oxygen torch is a good option because it can melt the metal quickly and keep it at the right temperature while pouring.
Carefully but quickly, pour the molten metal into the cuttlefish bone, making sure to stop once the funnel starts to fill.
Let it cool for a bit or immerse it in cold water. Remove the binding wire and check your casting.
The cuttlefish bone gets burned during casting, so if it didn’t turn out well you must repeat the whole process again with a new one.
Good luck and above all, have fun!
The last pictures show some of the jewellery I’ve made with cuttlefish bone casting. Enjoy!

Como fazer um lingote de metal precioso

A base de qualquer projecto de joalharia é o metal precioso que se vai utilizar. Seja para fazer chapa ou fio, o primeiro passo é misturar os metais nas proporções correctas para criar a liga pretendida e fundir para fazer um lingote.
A liga de prata mais comum é a chamada “prata de lei” que tem 925 milésimas de prata fina para 75 milésimas de cobre.
Em Portugal, a liga de ouro mais comum é de 19,2 quilates, com 800 milésimas de ouro fino para 200 milésimas de liga, composta por prata e cobre. A variação da quantidade de cada metal na liga vai influenciar o tom final do ouro. Para mais informações sobre os metais, consulte este artigo.

O metal deve depois ser derretido num cadinho e quando atinge o ponto de fusão é entornado para um molde onde se forma o lingote.
A forma mais rápida de derreter o metal é com um maçarico de gás e oxigénio mas também se consegue com um simples maçarico de gás butano ou propano desde que o cadinho seja pequeno e se derretam pequenas quantidades de cada vez.
Fiz um video que mostra os passos deste processo utilizando um maçarico orca só com gás butano ou propano – qualquer um funciona. Actualmente eu uso butano mas para quem vive num clima frio propano é melhor.
O bico que fica no topo do lingote mostra que o metal arrefeceu um pouco mais depressa do que seria ideal, o que não acontece com uma chama mais quente, mas também é fácil de serrar fora essa parte e usar o lingote normalmente.

A partir daqui o metal pode ser trabalhado, ou no laminador ou martelado, até se obter a forma desejada.

English:

How to make a precious metal ingot

The basis for any jewellery project is the metal to be used. Whether you need wire or metal sheet, you must start out by mixing the correct amount of different metals in the required alloy and then melt it to make an ingot.
The most common silver alloy is sterling silver, which is 925 parts silver to 75 parts copper.
In Portugal, the most common yellow gold alloy is 19,2K, which means 800 parts gold to 200 parts alloy metals. The alloy metals in yellow gold are usually silver and copper. The amount of each will change the tone of the alloy. To learn more about metals and their alloys, read this article.
All the metals must then be melted together in a crucible. When they are mixed properly, the molten metal is poured into an ingot mould.
The easiest way to melt the metal is by using a gas/oxygen mix torch but the same can be achieved with a simple butane or propane torch, so long as the crucible is small and you melt smaller quantities.
I’ve made a video to show the process in greater detail, using an orca torch with butane or propane gas – either one works but I use butane gas at the moment. If you live in a cold climate, propane is better.
The pointy bit on top of the ingot shows that the metal cooled a little faster than would have been ideal, which wouldn’t happen with a hotter flame, but it can easily be sawed off and doesn’t prevent the remaining ingot from being used normally.
From this point on, the metal can be thinned out on a rolling mill or by hammering, until it reaches the desired shape.

Será mesmo intolerância ao gluten?

Hoje em dia criou-se a ideia de que há de repente uma grande epidemia de intolerância ao gluten. Achei isso muito estranho porque as pessoas consomem pão com gluten há séculos sem problemas.

Recentemente confirmei a minha suspeita. Aquilo que me faz mal é o fermento quà­mico do pão -um aditivo muito mais recente. O pão feito como antigamente, com fermento natural (o chamado pão azedo) não me faz mal nenhum.

No fundo a ganância de fazer o pão mais rápido e mais barato é que está a causar o mal. Pergunto-me quantas pessoas sofrerão do mesmo sem se aperceberem. É precisa alguma experimentação alimentar para perceber as verdadeiras causas do problema.

Não quer dizer que não exista verdadeira intolerância ao gluten nalguns casos, claro, assim como doença Celà­aca. O que quero dizer é que se calhar não é tão frequente como as pessoas pensam e que os diversos quà­micos que são adicionados à  alimentação actual têm mais peso na nossa falta de saúde.

Chamar tudo pelo mesmo nome e culpar o gluten dá é muito jeito em termos de marketing. Assim vendem-se ainda mais produtos com toda a espécie de quà­micos mas “sem gluten” e a malta compra. Um bocado como os produtos “sem açúcar” carregados de adoçantes que causam cancro. Mas enquanto não passar legislação para proibir o seu uso (porque são produtos recentes e os estudos demoram a passar a lei) continuamos a consumir.

Não sou fanática da saúde mas não é preciso ser paranóica para perceber que a comida influencia a nossa saúde e bem estar. Prestar um pouco mais de atenção aos ingredientes dos rótulos é senso comum. Podemos continuar a comer porcaria mas pelo menos sabemos que o estamos a fazer conscientemente.

English:

Is it really a gluten intolerance?

People currently believe there is a gluten intolerance epidemic going on. I always found that rather odd because people have ben eating bread with gluten for centuries with no ill effect.

I’ve recently confirmed my suspicion. What makes me ill is the chemical fermentation additive used to make modern bread. Bread made the old fashioned way, with natural yeast (sourdough bread), doesn’t make me ill.

Greed to make faster, cheaper bread is the culprit that is making me sick. I wonder how many people have the same problem and don’t even know it. It takes some experimenting to figure out the real root of the problem.

I’m not saying there aren’t people with true gluten intolerance. All I’m suggesting is that it may not be as frequent as we’re led to believe and all the chemical additives in modern food are more harmful that naturally occurring gluten.

Giving a simple name to the issue and blaming gluten for all evils is just handy in terms of marketing. This way food brands can sell you “gluten free” foods with as many chemicals as they want and call it healthy. The same thing happens with “sugar free” products loaded with sweeteners that cause cancer. But until there’s a law forbidding their use (and the time between research studies and law takes a really long time) we continue to consume these things.

I’m not a health freak, not even close, but it doesn’t take paranoia to notice that food influences your health and well being. Paying a little more attention to ingredients in labels is just plain common sense. You can still eat crap but at least you’ll be doing it knowingly.

Finalmente temos um jardim!

Quando comprámos a nossa actual casa, há mais de oito anos, uma das caracterà­sticas de que mais gostámos foi o facto de ter um terraço. E quando digo terraço quero na verdade dizer uma varanda glorificada, pelo facto de ser mais larga do que o normal e ter a largura de todo o andar.

Com o Tiago pequeno e a Joana a caminho, ter um espaço externo para eles brincarem era muito atraente e ao longo dos anos o nosso terraço tem dado para andar de trotinete, montar uma casinha de brincar, fazer escorrega de água, encher uma pequena piscina insuflável (que durou dois dias porque os gatos não perdoam), enfim, muitas brincadeiras que não seriam possà­veis sem o nosso modesto terraço.

A única coisa que o terraço nunca teve foram plantas, um bocado por falta de planeamento da nossa parte, que falámos muito sobre isso mas fizemos pouco, um bocado por questões financeiras (todos os anos há algo mais importante em que é preciso investir) e também por causa dos gatos. Andei a pesquisar plantas que não fossem tóxicas para gatos e ao mesmo tempo um bocado irritada com o facto de saber que não ia conseguir ter nada que não estivesse mordiscado.

Este ano, finalmente, passámos do plano ao acto. Comprámos vasos, terra e algumas plantas e começámos o nosso jardim. Em anos anteriores tà­nhamos já comprado duas espreguiçadeiras e a tia do Pedro ofereceu-nos uma rede quando nos mudámos mas só no ano passado é que arranjámos uma base para aquilo. Ficou a faltar uma mesa e cadeiras mas não se pode ter tudo de uma vez, que o investimento já foi grande.

A maior planta que comprámos foi uma figueira para por num canto. Primeiras flores que comprámos foram um hibisco, uma diplodénia e dois crisântemos. O Pedro depois comprou umas petúnias que não sobreviveram e uma celosia que se está a dar bem. Arranjámos também umas suculentas, uns fetos, um cipreste pequenino e fizemos um vaso com plantas comestà­veis. A minha mãe deu-nos mais algumas plantas ““ um bambu que já tem montes de rebentos novos, uma dracaena que não é das minhas favoritas, mas como cresce em altura ajuda a tapar o tubo de escoamento das águas do telhado, e outra que não me lembro como se chama mas não faz mal aos gatos, especificamente para eles comerem.

Para evitar que os gatos destruam todas as plantas, comprei também sementes da erva de gato, que plantei em três vasos diferentes. Coloquei esses vasos, juntamente com outro que a minha mãe me deu, de uma planta de que não me lembro o nome mas não faz mal aos gatos, noutra zona do terraço, para ser claro quais é que eles podem comer. De vez em quando vão morder o bambu e depois vomitam dentro de casa, mas no geral deixam as outras plantas em paz. Fora uma dentada ou outra, as restantes plantas têm sobrevivido.

Tive de ser criativa com algumas das soluções. Foi preciso espetar alguns pauzinhos nas zonas onde eles gostam mais de escavar e no vaso dos fetos, para a Buffy não se deitar em cima das plantas. Também tive de arranjar uma rede para cobrir o vaso onde plantei sementes porque se não tem folhas eles acham que é caixa para cocós. É um desafio mas não está a ser tão mau como eu temia.

Devo dizer que o ambiente do nosso espaço exterior melhorou claramente só pelo facto de ter algumas plantas. Até os gatos parecem mais felizes e procuram mais aquela zona. O meu filho Tiago gosta muito de regar as plantas (porque gosta de brincar com a água) e é muito mais agradável ir lá para fora ler um livro ou beber um chazinho.

Como se faz uma aliança em ouro – How to make a gold wedding band

A aliança é o anel mais básico que se pode fazer. Esta aliança básica pode depois ser trabalhada para ter diversos estilos diferentes: pode ser feita em fio redondo, quadrado, rectangular ou fios torcidos. Pode ser larga ou estreita, grossa ou fina. Pode ter a base direita e o topo arredondado ou vice versa. Podem-se aplicar pedras grandes ou pequenas, só na frente ou a toda a volta. Enfim, as variantes são muitas.

Vou descrever aqui o processo de construção de uma aliança básica em ouro.
Quando me casei escolhemos umas alianças muito finas. Eu gostava delas mas com os anos, estas alianças foram ficando deformadas. Resolvi então fazer umas novas. Usei o ouro das nossas e acrescentei a aliança da minha avó, com autorização da minha mãe. As peças de ouro passam de uma geração para a seguinte e incluir o metal de uma aliança de famà­lia tem um valor simbólico que acrescenta alguma carga emocional à peça.

Como eram alianças com uma única soldadura, foi fácil de limpar a solda. Aqueci para ver onde eram as soldaduras, serrei pela linha e limei um pouco de cada lado para eliminar os restos de solda.

Fundir ouro com solda pode dar mau resultado porque a solda contém outros metais que não pertencem à composição da liga de ouro (nomeadamente cádmio, que hoje em dia já é proibido mas que pertence à composição da solda de todas as peças de ouro com mais do que alguns anos). Para além disso, a solda baixa o toque do ouro e o lingote resultante pode ter mais poros ou até formar uma liga quebradiça e difà­cil de trabalhar. Quando não se consegue eliminar a solda, convém purificar o ouro antes de ser trabalhado.

Quando não temos metal para reciclar é necessário ligar o ouro. A liga de ouro em Portugal é de 19 quilates o que corresponde a 80% de ouro para 20% de liga. Os metais utilizados na liga são normalmente prata e cobre mas no caso do ouro branco a liga contém nà­quel ou paládio. Como há muitas alergias ao nà­quel, o ideal é ligar com paládio. O ouro branco é a liga mais difà­cil de trabalhar porque o metal é mais rijo e quebradiço e tem tendência para abrir fendas ao ser laminado, se não for recozido convenientemente.

A imagem acima mostra o que acontece ao ouro branco ao ser laminado quando não foi devidamente recozido.
Para quem quiser mais detalhes sobre os metais, aconselho a leitura do artigo “noções básicas sobre metais“.

Fiz um lingote a partir do ouro fundido. Para fazer um lingote é preciso derreter o metal num cadinho previamente coberto de tincal (borax). Depois aquece-se o metal até atingir o estado là­quido e verte-se este metal derretido, sempre com a chama em cima para não arrefecer cedo demais, para um molde de lingote, geralmente em ferro.

A foto acima mostra lingotes de ouro rosa e ouro branco para outras alianças feitas da mesma forma. Como se pode ver, o ouro branco não é totalmente branco, especialmente ouro de 19K. Para ficar branco é necessário dar-lhe um banho de ródio após a construção do anel.

Convém que o ouro a fundir tenha um mà­nimo de 6 gramas para haver metal suficiente para trabalhar. Com o limar e polir há sempre perdas de metal, algumas delas irrecuperáveis, pelo que é preciso começar com mais metal do que o necessário para completar a peça. 1 a 2 gramas de perdas é normal. Algum do peso recupera-se sob a forma de limalha mas há sempre uma parte, especialmente durante o polimento, que se transforma num pó tão fininho que não se consegue captar, principalmente num pequeno atelier sem grandes máquinas de aspiração.

O lingote foi depois transformado em fio quadrado no laminador. Vai passando pelos rolos em sulcos cada vez mais finos até ficar do tamanho pretendido. Neste caso, como a quantidade de ouro era limitada, concentrei-me mais no comprimento que o fio precisava de ter para conseguir fazer duas alianças. Parei quando obtive um fio com 9 cm de comprimento.

Para calcular o tamanho de fio necessário para fazer um anel utiliza-se Pi. Mede-se o diâmetro interno do anel e multiplica-se por 3,14. Se o anel for muito grosso é necessário acrescentar a grossura do fio à  medida final.
Convém geralmente fazer o anel um pouco mais pequeno do que o tamanho pretendido porque ao martelar para o tornar redondo e ao retirar algum metal quando se for limar e polir, ele vai alargar ligeiramente.

Laminei o fio quadrado em chapa para ficar rectangular. Parei quando a grossura chegou a 1 mm. Fiquei com um fio de 1x3mm, que já é um tamanho muito bom para uma aliança.


Enrolei o fio à  volta a adrasta de anéis e serrei.

Soldei as duas alianças. A primeira imagem mostra um anel em prata depois de soldar. As duas imagens seguintes mostram um anel em ouro, antes e depois de soldar. Gosto de amarrar os anéis com fio de ferro antes de soldar para impedir que abram com o calor, se o metal tiver alguma tensão criada ao formar. Também se pode recozer o metal antes de soldar mas como isso requer um branqueamento extra e mais tempo perdido, costumo saltar esse passo quando possível.
Para soldar é preciso que o metal esteja limpo e tem de se aplicar tincal à  zona da união. O tincal impede a oxidação e permite que a solda corra. Soldar ouro é um pouco mais fácil do que soldar prata porque o calor pode ser direccionado mais para a zona a unir. Não é preciso aquecer toda a peça por igual, como com a prata. Isto acontece porque a prata é melhor condutora de calor do que o ouro.
Depois limei até ficar tudo lisinho e com as arestas ligeiramente arredondadas. Verifiquei o tamanho na adrasta e dei umas marteladas com o martelo de cabedal até ficar tudo redondo. Se a adrasta for cónica, como é costume ser, convém virar o anel e dar umas marteladas do outro lado também, para manter o anel direito em vez de conformar à  forma cónica da adrasta.

Por fim lixei e poli as alianças até ficarem a brilhar. Uso lixa de grão 400 para tirar os riscos e depois lixa de grão 600. A partir daà­ passo para o tripoli, que é um sabão de pré-polimento castanho. Para alianças uso bicos de feltro cónicos ou cilà­ndricos para polir no motor de suspensão Foredom. A seguir ao tripoli passo para o sabão de polimento verde e por fim o vermelho, ou rouge. Deve-se usar um bico de feltro diferente para cada sabão de polimento e devem ser marcados ou guardados em saquinhos juntamente com a barra de polimento correspondente para se saber qual se deve utilizar da próxima vez.
O ouro é mais fácil de polir do que a prata porque não fica geralmente com a mancha do óxido de cobre que na prata causa umas manchas cinzentas feias e difà­ceis de eliminar.

E pronto. Assim ficámos com novas alianças a partir das antigas.

English:

How to make a simple gold wedding band

The simple wedding band is the most basic ring construction that you can make, but even this basic ring band can have many different looks. It can be made from round, square, rectangular or twisted wire. It can be wide or narrow, thick or thin. It can be straight on the inside and curved on the outside or the other way around. It can have large or small gemstones, only at the front or all the way around the band. There are too many variations to name them all.

In this article I will describe the process of making a simple gold wedding band.
When I got married we bought very thing wedding bands. I liked them but over the years they became deformed from use. I decided to make new ones. I used the gold from our old rings and also added my grandmother’s wedding ring, with my mother’s permission. Gold jewellery tends to be passed down from one generation to the next and incorporating the metal from a family ring is very symbolic and adds to the emotional charge that we attach to jewellery.

Since the rings only had one solder point it was simple to file away the old solder. Melting gold with solder is not a good idea because solder contains other metals that don’t belong in the composition of the alloy (including cadmium, which is now forbidden in many countries but is part of the solder used in older gold jewels). Solder also reduces the karat weight of the gold you’re melting and can result in other issues like pores or a more brittle metal. When you can’t remove the solder it’s best to purify the gold.

When we don’t have any metal we can reuse, it’s necessary to made the alloy from fine gold and other metals. In Portugal, gold is usually a 19K alloy, meaning 80% fine gold and 20% other metals. The metals used to alloy gold are usually silver and copper but white gold contains nickel or palladium. Due to common allergies to nickel, palladium is a better choice. White gold is the hardest gold alloy to work because it’s harder and has a tendency to crack when it’s rolled if it’s not annealed properly.

One image above shows what happens to white gold when it goes through a rolling mill and hasn’t been fully annealed.

To make an ingot I melted the gold in a crucible that had previously been coated with borax. I heated the metal until it became liquid and poured it into an ingot mould, always keep the flame over the metal to prevent it from solidifying too soon. Ingot moulds are usually made from iron.

One of the photos above shows the difference in colour between a rose gold and white gold ingot for another pair of wedding rings I’ve made. As you can see, 19k white gold isn’t completely white. To make it so it usually needs rhodium plating after the ring is complete.

To make an ingot it’s advisable to have at least 6 grams of gold. When you’re working on the piece there will be some loss of metal from filing and polishing. 1 to 2 grams is normal in terms of metal loss. Some of this loss can be recovered (filings), some can’t, like the fine dust that comes from polishing, especially in a small studio if your polishing area doesn’t have dust collection.

I turned the ingot into square wire by running it through the rolling mill. The wire goes through increasingly smaller holes until it reaches the desired size. In this case, since the amount of gold was limited, I stopped when I had a 9 cm long square wire, which is what I needed to make two rings.

To calculate the length of wire needed you use Pi. Measure the internal diameter of the ring and multiply it by 3,14. If the ring is thick, you should add the metal thickness to the calculation.

It’s a good idea to make a ring slightly smaller than the final size you want because when hammering to make it round, filing, sanding and polishing, you’ll remove some metal and the ring will stretch a bit. I make it half a size to one size smaller.

My square wire went through the rolling mill again, this time on the flat rollers, to squash it into rectangular wire. I stopped when the thickness reached 1 mm. I ended up with a rectangular strip of 1x3mm, which is a good size for a wedding band.

I formed the band around a ring mandrel and used a jeweller’s saw to make two rings.

I soldered the rings closed. The first picture shows a silver ring after soldering. The next two pictures show a gold ring before and after soldering. I like to wrap some iron binding wire around the rings while soldering to prevent them from opening when heated due to tension created while forming. You can also anneal the metal before soldering but that requires more time in the pickle so I tend to skip it if possible.

To solder, the metal needs to be clean and you have to coat the join with some flux. Flux stops the metal from oxidizing and allows the solder to flow. Gold is a little easier to solder than silver because you can direct the heat mainly at the area you want to join. There’s no need to heat the whole piece equally, like you need to with silver. This is because silver is better at conducting heat than gold.

I filed the excess solder and rounded the sharp edges a bit. I checked the size on the ring mandrel and hammered with a rawhide hammer until the rings were perfectly round. If the mandrel is conical, you should turn the ring and hammer the other size in order to keep both sides straight instead of conforming to the conical shape of the mandrel.

Finally, I sanded and polished the rings until I got a mirror polish. I use 400 grit sandpaper to remove scratches, followed by 600 grit. From there I move to tripoli on a Foredom flex shaft. For a simple ring I use conic or cylindrical felt bits to polish. After tripoli (a brown pre-polish compound) I use a green polishing compound and end with rouge. There should be a separate felt bit for each compound and it’s a good idea to mark them or keep them in a bag along with the polishing compound so you know which one to use next time.

Gold is easier to polish than silver because it doesn’t usually get those awful grey fire stains that silver is known for.

And so we got brand new wedding rings out of our old ones.

A carteira perdida

No fim de semana o Pedro encontrou uma carteira no chão do parque de estacionamento do centro comercial. Não sei se o dono da carteira a perdeu ao sair do carro ou se tinha sido roubada e depois abandonada. Só sei que pertencia a alguém que estava, provavelmente, a ter um mau dia graças a isso.

Como não encontrámos nenhum contacto para uma devolução mais rápida, o Pedro foi entregar a carteira na esquadra da PSP, onde lhe disseram que a pessoa que trata desses assuntos estava a almoçar e, por isso, para voltar mais tarde.
O Pedro achou normal mas para mim esta atitude é muito estranha. Estão a confiar que alguém que tem um comportamento decente é boa pessoa a tempo inteiro e vai dar-se ao trabalho de perder mais tempo para voltar lá em vez de dizer “que se lixe, a minha vida não é isto” e deitar a carteira no caixote de lixo mais próximo. O Pedro lá voltou mais tarde, claro, e entregou aquilo.

Acho que dá sempre alguma satisfação saber que se ajudou alguém que pelo menos assim não precisa de ir perder dias para fazer os documentos todos de novo, mas no fim disto tudo imagino o homem a receber a sua carteira de volta, muito feliz, e a agradecer a quem? Provavelmente à  santinha cuja imagem tinha na carteira em vez de à  pessoa que perdeu parte do seu fim de semana para a devolver.

Mas por essa lógica também foi a santinha que o fez perder a carteira e ter um mau dia. Será que vai pensar nisso?

Photo by Lukas from Pexels

As diferenças entre prata de lei, prata fina, bimetal e banho de prata

Muitas pessoas, quando começam a fazer bijutaria e jóias lutam com a questão de que metal usar. Eu comecei com cobre e depois com fio colorido para artesanato até decidir que a minha cor preferida era a da prata.

Desde então fiz peças tanto em prata de lei como em cobre com banho de prata. Recentemente adquiri também fio em bimetal ou “silver filled” para experimentar e penso que é um bom compromisso entre os outros dois para algumas peças, especialmente de wire wrapping.

Ainda uso cobre e latão porque gosto de misturar as cores dos metais e posso soldar e trabalhar estes metais da mesma forma que a prata, mas deixei de usar o fio colorido porque a camada de cor sai facilmente.

Neste artigo vou mencionar principalmente os diferentes tipos de fio de prata mas os mesmos princà­pios aplicam-se também ao fio de ouro.

Comecei com fio de cobre com banho de prata mas este é considerado amador e não dura muito porque a camada de prata é muito fina e acaba por desaparecer com o uso constante. É a opção mais barata mas também a que tem mais limitações em termos das técnicas que se podem utilizar – não se pode soldar, derreter as pontas ou polir convenientemente sem retirar a camada de prata da superfà­cie. Mesmo martelar tem de ser feito com cuidado.

Infelizmente este material é muitas vezes uma necessidade por motivos de custo. Quando a economia está má os clientes não gastam tanto em items considerados não-essenciais. Outros clientes querem só uma peça para usar numa única ocasião ou durante uma estação e não estão preocupados com a durabilidade. Se os seus clientes forem deste tipo, o banho de prata pode ser uma boa opção desde que se compreendam as limitações do material. Items como brincos ou pregadeiras duram mais tempo porque roçam menos nos tecidos e não andam a bater contra as coisas como os anéis, pulseiras e até pendentes.

Na ponta oposta do espectro temos a prata de lei. Quando comecei a fazer bijutaria tinha um certo receio de usar prata e mesmo hoje em dia há alturas em que prefiro fazer uma primeira versão em cobre para resolver questões técnicas antes de usar a prata, mas depois de anos de treino em joalharia, e sabendo que os restos podem ser reutilizados, já não tenho medo de trabalhar a prata. Hoje em dia o ouro passou a ser a barreira que geralmente só atravesso se for por encomenda.

A vantagem da prata de lei e mesmo da prata fina é que se podem usar todas as técnicas mencionadas anteriormente – soldar, derreter, martelar e polir sem problemas. O custo do material é mais alto, certamente, mas investir em metais preciosos não é uma opção muito arriscada. Se a peça correr mal ou não for vendida é possível recuperar o metal – purificando-o o transformando-o num lingote – e fazer uma coisa nova, ou vender a prata quando o mercado sobe.

Ao derreter as pontas do fio de prata fina obtêm-se bolas mais perfeitas do que com prata de lei. Também oxida menos. O inconveniente é que é um metal muito mole e que deforma facilmente, por isso é melhor usar só para elementos decorativos e não é adequado para fechos, argolas ou outras peças que precisem de ser resistentes.

Para obter uma resistência o mais parecida possível à  prata de lei com fio de prata fina é aconselhado subir um ou dois tamanhos na espessura do fio – Por exemplo, uma peça de 0,8mm em prata de lei deve ser feita em 1,00mm em prata fina para manter a forma da mesma maneira.

Os maiores problemas com o uso da prata são a nà­vel legal. Muitos paà­ses, incluindo Portugal, requerem uma marca do fabricante, uma licença para venda de metais preciosos e uma marca de qualidade que é colocada pela contrastaria. Estas regras servem para proteger os clientes mas aumentam os custos de produção e são um problema para quem não tem ainda as qualificações suficientes para se enquadrar neste sistema.

É possível contornar o problema produzindo peças que estejam abaixo do peso legal que exige contraste – 2 gramas para Portugal – ou evitando mencionar o termo “prata” na descrição dos artigos, dizendo apenas que se trata de um “metal branco”, por exemplo. Não se pode ser acusado de enganar o cliente se não se vender nada como “metal precioso”. Pode não ser inteiramente correcto mas não é ilegal. O problema é que se torna complicado justificar o valor da peça.

Um meio termo é o bimetal ou silver filled. É um tipo de fio que tem um centro de metal comum que foi fundido a uma camada de prata na superfà­cie. Mas ao contrário do banho de prata, esta camada superficial é bastante espessa. O conteúdo de prata numa liga de bimetal pode ser de 5, 10 ou 20% do peso total. Não é suficiente para ser considerado metal precioso e requerer marca de contrastaria mas tem uma camada de prata suficiente para permitir soldar, martelar e polir sem problemas. O custo é algures entre o banho de prata e a prata de lei. E para além disso, como a camada de prata é prata pura, também é mais resistente à  oxidação.

Os maiores inconvenientes são que não é possível derreter a ponta do fim e se não for bem feito ou de qualidade, pode rachar ou descamar a superfà­cie quando está a ser trabalhado. É importante então descobrir um bom fornecedor.

Estou a planear fazer algumas peças de wire wrapping em bimetal para dar alternativa à s pessoas que não são fãs do fio de cobre mas também não querem pagar o custo da prata de lei.

English:

Differences between sterling silver, fine silver, silver plated and silver filled

A lot of people when they start making jewellery, struggle with the issue of what wire to use. I started with copper, then moved onto coloured craft wire until I decided I liked the colour of silver best of all.

Since then I’ve made pieces in both sterling silver wire – round and square – and in silver plated copper wire. I’ve recently purchased silver filled to give it a try and I find it a good compromise between the two, especially for wire wrapping.

I still use copper and brass, because I like mixing colour metals and I can solder and work them in many ways, but stopped using craft wire because the coating comes off too easily.

I will stick to silver in this article, because that’s the material I use most, but the same principles apply to gold wire.

I started with silver plated wire but silver plated is considered amateurish and doesn’t last very long because the silver coating is very thin and can wear away after some use. It’s the cheapest option but it’s also limited in terms of what techniques you can use – you can’t solder it, melt the ends or polish it properly without removing the silver coating. Hammering is also an issue at times.

Unfortunately this option it’s more of a necessity than a choice in some cases. When the economy is bad, people can’t spend much on non-essencial items. A lot of clients want pieces to wear for a season or two and they care more about how the piece looks than what it is made of or how long it will last. If you have this kind of target audience, silver plated may be a good option for you, just know what the limitations are and you should be fine. Items such as earrings or pins last longer because they don’t rub against fabric or bump into things as often as pendants, rings or bracelets.

On the opposite side of the spectrum there’s sterling and fine silver. When I first started out I was afraid to use it, and even now I still sometimes make a first version of some pieces in copper before breaking out the silver, but after years training as a metalsmith and knowing how to reuse the scrap metal, I don’t have a problem with working in silver any more. The bar has now gone up and it’s gold I can’t seem to justify the cost of unless it’s a custom job.

The upside of sterling and fine silver is that you can use all the previously mentioned techniques – soldering, melting, hammering and polishing with no problems. The cost of the material is much higher, certainly, but investing in precious metals is probably not a risky option. If your piece doesn’t sell and you need to get your money back, you can purify it, melt it into an ingot and do something else with it or sell it at a time the market goes up.

Fine silver balls up better than sterling when you melt the end of the wire. It also oxidises less. The downside is that it’s softer, so it deforms easily and it isn’t strong enough for any parts that require tension. It’s best used for decorative parts, not for clasps, jump rings or anything that needs strength.

To get a similar strength to sterling wire, you should go up a size or two when using fine silver wire. For example, if you normally use 0,8mm (20g) sterling wire you should use 1,00mm (18g) fine silver for the wire to retain the shape the same way.

The issue with sterling silver is more on the legal side of things. A lot of countries require a maker’s mark, a specific license for the sale of items made from precious metals and for the item to be sent to an assay office for hallmarking before it can be sold. These rules are made to protect the customer but they do increase the cost of legally selling silver items.

You could work around it and either make items that weigh less tan the legal limit – 2 grams for Portugal, 7 grams for the UK, for example – or sell your items without stating that they’re sterling silver – if you don’t claim your item is made from silver and simply state that it’s a “white metal”, for example, you can’t really be accused of cheating your clients because you’re not selling anything as “precious metal”. In fact you’d be giving them more than they expect. It may not be entirely ethical but it’s not, strictly speaking, illegal. The problem is that it makes it harder to justify the cost of the items to a client.

A middle ground is silver filled or bimetal. This is a type of wire that has a base metal core that has been fused to a thick top layer of silver. Unlike silver plating, the precious metal content is much higher – 5, 10 or 20% of the total mental content. It’s not enough to be considered a precious metal and require hallmarking but it’s thick enough that won’t rub off with use and can be soldered, hammered and polished with no issues. The cost is somewhere in between silver plating and sterling silver. And since the top layer is fine silver, it also oxidises less.

The main downside is that you can’t ball the ends and sometimes, if it’s not good quality wire, it can crack or flake when you bend it, so it’s important to find a good supplier.

I’m planning to make a few wire wrapped pieces in silver filled for those people who don’t like the colour of copper but also don’t want to pay the price of sterling.

The Handmaid’s Tale

Estou a adorar a nova série da Handmaid’s Tale.

Já li o livro há muitos anos e recomendo, (assim como muitos outros livros da Margaret Atwood). Também vi o filme dos anos 80. Mas já passaram anos suficientes para não me lembrar dos detalhes, por isso estou a ver a série quase como uma coisa nova.

A actriz principal, Elisabeth Moss (que muitos conhecem da série Mad Men), é altamente expressiva, o que é muito importante para uma personagem que não pode falar muito. Sem ela a história não teria o mesmo impacto.

O resto dos actores, no geral, também estão bem escolhidos, especialmente Yvonne Strahovski como Serena Waterford, cuja perfeição exterior esconde a sua capacidade para crueldade. É uma personagem que me faz pensar nas anti-feministas que encontro pelo Youtube, que defendem ardentemente que as mulheres não devem trabalhar e deviam ficar em casa com os filhos, esquecendo-se que, se o mundo que elas querem se tornar realidade, vão perder a sua liberdade junto com todas as outras mulheres. Agora pelo menos ainda têm liberdade suficiente para expressar a sua opinião.

Isso leva também à  questão das chamadas “traidoras de género”, que na série são as lésbicas. Na verdade as traidoras de género são as mulheres dos comandantes e as “tias” que oprimem e torturam as outras mulheres para as manter na linha. São essas pequenas ironias que passam completamente ao lado das personagens e que mostram como os mais convictos, aqueles que acreditam verdadeiramente nas suas causas, aqueles que sabem sempre o que seria melhor para toda a gente e que e fossem eles a mandar é que isto entrava na linha, são muitas vezes os mais perigosos.

O livro já é antigo mas continua relevante. Os conservadores e extremistas de direita que estão actualmente no poder em diversas zonas do mundo, nomeadamente nos Estados Unidos onde a história se passa, e que querem matar e oprimir todos os que não forem homens brancos mas depois choramingam que não têm liberdade de expressão, é exactamente o tipo de ralé capaz de levar a cabo um futuro como este.

Uma das coisas que a série tem de interessante é precisamente mostrar como é que o paà­s chegou à quela triste situação. A apatia da população, que vai aceitando as mudanças confiante que a coisa não vai durar para sempre é a mais pura realidade. E quando isso não chega, Basta matar uns quantos e o resto cala-se. Como é que acham que a escravatura durou tanto tempo? Mata-se um à  chicotada e os outros fazem o que lhes dizem, com medo do mesmo destino.

Por fim, e para quem acha que aquilo é tudo um exagero, a única coisa fantasiosa em toda a história é a forma como as mulheres de todo o mundo perdem de repente a capacidade reprodutora. Margaret Atwood, a autora do livro, confirmou que todas as atrocidades cometidas no livro foram retiradas de momentos da história humana, em muitos casos justificados pela religião. Nem é preciso muita imaginação, basta boa pesquisa.

A história do livro termina, não no fim da primeira season mas sim no primeiro episódio da segunda. Estou curiosa para ver como a série progride, agora que deixa de ter o livro a orientar os acontecimentos. Espero que os escritores consigam continuar o nà­vel de qualidade demonstrado até aqui, com a mesma subtileza.

Jóias hà­bridas – a junção da joalharia ao wire wrapping

Antes de tirar o curso de joalharia comecei por aprender wire wrapping. Fiquei fascinada com as possibilidades a nà­vel de design que eram possà­veis apenas com fio metálico e alguns alicates mas também reparei nas suas limitações e foi isso que me levou a procurar formação em joalharia.

Pensei que os conhecimentos de joalharia se fossem sobrepor e substituir o meu interesse pelo wire wrapping mas muitos anos depois reparei que isso não ocorreu.

Muito pelo contrário aquilo que comecei a sentir como o meu estilo é precisamente a junção das duas coisas naquilo a que alguns chamam um estilo “hà­brido”. Basicamente começo com uma base soldada e uma cravação em virola tradicional e depois acrescento elementos de wire weaving e coiling, trabalhados em arame, que vão dar textura e decoração à  peça.

Deixo aqui alguns exemplos de peças que tenho desenvolvido neste estilo.

Hybrid Jewellery – joining soldering and wire wrapping techniques

Before studying as a jeweller I started out by making wire wrapped jewellery. I was fascinated by the design possibilities that could be achieved with the simple use of some wires a coupe of pliers. I was also aware of it’s limitations, which is why I decided to take my studies further.

I was convinced that learning how to solder and set stones would take over from my interest in wire work but that didn’t happen. In fact, I began to feel that my style would develop from merging the two into hybrid pieces. I start out with a soldered frame and traditional stone setting and then add wire weaving and layering to add texture and decoration to the pieces.

Above you can see some examples of the work I’ve been developing in this style.

Os podres do sistema de ensino

Desde o tempo do Sr. Crato que os programas do ensino básico ficaram completamente desajustados à  idade e maturidade das crianças que têm de os aprender. Em vez de se focarem em ensinar a ler e escrever correctamente e cimentar o conhecimento das 4 operações matemáticas básicas, agora temos aberrações como pà´r crianças do segundo ano, que ainda nem deram a divisão, a fazer operações com fracções.

A matéria em todas as disciplinas, mas principalmente na matemática, foram antecipadas vários anos sem razão que eu consiga ver. A matéria é demasiado extensa e os professores andam a correr para dar tudo, não tendo tempo de fazer exercí­cios de consolidação.

Espera-se que os alunos, depois de 8 horas na escola ainda vão para casa a seguir, estudar em detalhe aquilo que o professor deu a correr nas aulas. No sétimo ano os alunos têm para estudar 40 a 60 páginas para um único teste, e é esperado que façam também trabalhos de casa para outras disciplinas no mesmo dia. É absurdo e só traz frustração, sentimentos de inadequação e até mesmo ódio pela aprendizagem no geral. Em casa há conflitos constantes entre pais e filhos porque as notas vão descendo, e mesmo quando os pais percebem que os filhos até se esforçam, continuam a insistir para eles estudarem mais porque as notas são muito importantes.

Eu tinha esperança que com a mudança de governo a coisa fosse corrigida mas já percebi que isso não vai acontecer. Recentemente foi-me explicado porquê.

O problema neste momento passa mais pela politiquice das próprias escolas e agrupamentos do que por culpa do governo. As escolas, que deviam defender os seus alunos, estão mais preocupadas com coisas parvas como o seu lugar no ranking e preferem falsificar os dados do sucesso dos alunos para ter bom aspecto do que levantar a voz em defesa de um ajuste realista dos programas.

Se admitem que os resultados são piores do que o esperado estão a admitir que os professores e os agrupamentos no geral não conseguiram cumprir o que devia ter sido ensinado. Não interessa que esse incumprimento seja culpa do programa estar inadequado à  idade e ser demasiado extenso. A única coisa que interessa é que nas estatà­sticas, o número de alunos que transitaram de ano seja superior ao do ano anterior. Para ter a certeza que isso acontece, no inà­cio do ano é definida uma quota para o número de alunos que pode chumbar. Os outros passam à  mesma e são integrados num sistema diferente, tipo “alunos com necessidades educativas especiais” e coisas do estilo, para justificar a aldrabice. Isto são ordens que vêm dos agrupamentos e que os professores, por mais que discordem, têm de cumprir. Não interessa se os alunos estão realmente a aprender qualquer coisa. Só interessam as aparências.

Assim sendo, o que acontece quando o ministério da educação recebe os dados vindos das escolas? Para eles parece que está tudo a correr bem, logo não é preciso ajustar nada nem mudar o programa.

Entretanto uma geração inteira de crianças está com a vida toda estragada. Não têm tempo livre, há uma pressão constante enorme, têm testes que não percebem para que servem mas que lhes causam ainda mais stress porque se dá uma importância enorme da escola ““ as chamadas provas de aferição.

No meio disto tudo alguém se esqueceu que estamos a falar de crianças a quem se está a exigir uma concentração e carga de trabalho quase equivalente ao que seria de esperar na faculdade. E enquanto se aldrabarem os números, não muda nada, até porque não estou a ver os pais a ir insistir para os professores chumbarem os filhos, muito pelo contrário, ficam super felizes.

E pelo meio não há de facto aprendizagem para muitos deles. Há professores a falar, alunos a ouvir, muitas vezes sem perceber, e nenhum conhecimento adquirido. Mas pelo menos a escola não desce no ranking.