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A exaustão de parecer estar bem

Estou sempre cansada. Não interessa quantas horas durmo, se me mexo mais ou menos. Viver é cansativo quando se passa o tempo a fazer de conta que está tudo bem.

Sou uma pessoa extremamente ansiosa pelo menos desde a adolescência. E quando falo em ansiedade refiro-me a coisas como ter 15 anos e entrar em pânico por ter que ir ao banco depositar dinheiro porque podia fazer qualquer coisa mal, enganar-me, dizer a coisa errada. E depois? Não sei, mas isso não interessava porque este pavor tremendo não está interessado em lógica.

É acordar de manhã com a sensação que está tudo errado, que vai acontecer algo terrà­vel. Por mais que eu saiba que é irracional e absurdo, não consigo eliminar esse sinal de alarme que toca insistentemente no meu cérebro. Ignorá-lo de forma a conseguir continuar a funcionar, porque há crianças para alimentar, ajudar a estudar e levar à  escola, porque há trabalho para fazer, é desgastante. Exige toda a minha energia e força de vontade.

Nunca fui ao médico, nunca fui diagnosticada, nem medicada, nem coisa nenhuma, porque para mim isto é simplesmente a forma como eu sou, para bem ou mal, e aprendi a viver com isso. Mas esta ansiedade moldou a minha vida de formas que não poderia prever. É o que me levou à  joalharia, por exemplo. Porque fazer trabalho artesanal é a minha terapia ocupacional. Enquanto produzo algo com as mãos consigo concentrar-me e acalmar-me um pouco. Dá-me a sensação de controlo que preciso.

A joalharia também serviu para me tirar de casa e do isolamento, durante pequenos momentos. Tenho dias em que não quero sair, em que sinto que não consigo falar com ninguém. O mundo fora da minha porta parece-me um deserto árido cheio de criaturas perigosas, venenosas, que tenho de evitar a todo o custo. Ter de ir para as aulas obrigava-me a enfrentar o exterior.

Independentemente da ansiedade sou uma pessoa introvertida. Não gosto de estar rodeada de muita gente, fujo do barulho. Salto quando toca o telefone ou a campaà­nha, como se viesse alguém matar-me ou algo do estilo.

Gosto de conversar com uma ou duas pessoas de cada vez, num ambiente calmo, mas se ficar sozinha durante longos perà­odos também não me faz impressão nenhuma. Pelo contrário, preciso de estar sozinha para recarregar as baterias.

No entanto, a ansiedade levou-me a isolar-me ainda mais do que a minha natureza introvertida gostaria. Sinto-me sempre isolada mesmo com muita gente à  volta. Na minha cabeça sou sempre a pessoa mais estranha e diferente em qualquer situação. É mais fácil sentar-me num canto a ler um livro do que iniciar uma conversa.

Aprendi a sorrir e a dizer as frases educadas que são esperadas em situações socais mas raramente passo daà­ a não ser com duas ou três pessoas que me conhecem melhor e com quem estou relativamente à  vontade.

Profissionalmente preocupo-me quando não aparece trabalho e depois ando a trepar as paredes quando há trabalho porque, então e se não consigo fazer aquilo? Mesmo quando é algo que já fiz inúmeras vezes, que não tem nenhuma dificuldade técnica especial, há sempre o risco de cometer um erro. E isso é imperdoável.

Passo os dias a sentir o coração a bater, a tentar descontrair os ombros permanentemente tensos. Tenho pesadelos constantes por isso nem a dormir descanso. É absurdo e só me apetece bater em mim mesma, seguir os conselhos da minha mãe que são coisas como “tem calma” ou “não penses nisso”, como se não fossem as palavras mais inúteis do universo. Se fosse assim tão fácil não vivia assim há décadas. Não tinha de lutar tanto para ganhar coragem para me levantar da cama, para sair de casa. Não sentia um alà­vio tão absoluto quando é finalmente hora de ir para a cama, hora em que já não tenho que lidar com mais nada nem mais ninguém.

Tudo isto é muito cansativo e não acaba. Nunca.

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