Há certas coisas que são tabu e não percebo bem porquê.
As pessoas gostam de se gabar que beberam tanto que até vomitaram, gostam de piadas de casa de banho e num grupo de amigos pode-se falar de diarreias e mijar-se pelas pernas abaixo e as pessoas riem-se e partilham as suas histórias sem ofensa. As mães e pais falam dos cocós e xixis dos seus meninos e não há qualquer controvérsia. As mulheres partilham entre si algo sobre a última ecografia mamária e está tudo bem. Então porque é que certos assuntos são proibidos?
Reparei que, por exemplo, parece que não se pode falar de menstruação. Apesar de ser algo perfeitamente normal, até entre as mulheres é um assunto que faz torcer o nariz.
Todas as mulheres em idade fértil precisam de saber quando foi a data em que começou a sua última menstruação. É uma das perguntas standard quando se vai ao ginecologista. E devemos controlar os nossos ciclos para saber se está tudo regular. Eu descobri recentemente que tenho um mioma porque comecei a ter um sangramento anormal e fui fazer exames. É preciso prestar atenção a estas coisas porque o nosso corpo dá-nos sinais sobre a nossa saúde.
Manter um registo do ciclo menstrual é algo que se deve incentivar as raparigas adolescentes a fazer, até porque os primeiros ciclos podem ser mais irregulares e é uma chatice andar pela escola com as calças todas sujas porque se esqueceram de levar pensos.
Para pessoas que estejam a tentar engravidar ou que corram o risco de engravidar sem querer, saber a altura da ovulação e da próxima menstruação é uma informação fundamental. Até eu que já não corro o risco de engravidar preciso de ter esses dados.
Então porque é que o peràodo é uma coisa tão imencionável? É mais nojento que diarreia? Eu acho que não. Sangue todos temos. É claro que não gostamos de o ver do lado de fora, mas no caso das mulheres é um funcionamento normal do organismo. Não é motivo para vergonhas e nojo. Pelo menos não mais do que as restantes funções biológicas.
Há pouco tempo encontrei uma app fantástica para controlar o ciclo menstrual. Para que saibam, chama-se Clue, é grátis e permite apontar uma série de informações como a data das últimas menstruações, se tomámos ou não a pàlula, dias de dores, temperatura, se o fluxo menstrual é muito ou pouco e o tipo de corrimento vaginal durante o resto do mês. Com os dados que vamos introduzindo, a app ajuda a prever a data dos próximos ciclos, o que dá imenso jeito para várias ocasiões, como por exemplo se estivermos a tentar marcar férias sem surpresas. É giro, muito simples de usar e não tem uma pinga de cor de rosa em lado nenhum, como é comum nas apps para “senhoras”. Digo isto como utilizadora. Ninguém me pagou para publicitar o produto. Acho simplesmente que usar uma coisa destas é importante e se não gostarem deste e preferirem borboletas e arco àris há muitos outros.
Partilhei o link do app há uns tempos no facebook. Suponho que possa ter sido confundido com spam mas fiquei surpreendida porque, enquanto qualquer baboseira sem interesse tem sempre pelo menos dois ou três likes, este passou completamente em branco. Lá está, não se fala destas coisas.
O outro assunto que parece chocar grande parte da população é a amamentação em público. Tanto homens como mulheres ficam chocadàssimos quando vêem uma mulher a amamentar. Parece que voltámos à época vitoriana em que as mulheres tinham de ficar fechadas em casa durante a gravidez para não chocar a população com a prova de terem tido relações sexuais.
Fala-se tanto de sexo e até a gravidez parece ser bem aceite hoje em dia. Pessoas que não nos conhecem de lado nenhum de repente desatam a fazer festinhas na barriga das grávidas (fazendo com que as grávidas tenham de conter o desejo de lhes dar um pontapé nas canelas porque pelos vistos não aprenderam que o contacto fàsico deve ser autorizado pela pessoa) e não resistem a tocar nos bebés e crianças (também já tive de me controlar para não ser desagradável à s dezenas de pessoas que ficam ali a massajar os caracóis do cabelo da minha filha como se fosse uma daquelas bolas anti-stress. Têm de aprender que as crianças também são pessoas e merecem respeit0).
Mas a questão não é essa. Aparentemente é tudo bom e fofinho até o bebé ficar com fome. De repente parece que o acto de alimentar a criança da forma mais natural possível, com a parte do nosso corpo que é criada para o efeito, é a coisa mais nojenta do mundo.
Compreendo que na nossa sociedade não se anda por aà de mamas de fora, mas isto não é exibicionismo nem um acto sexual em público. É o caso de termos um bebé que tem fome e por acaso não estarmos em casa. Acham que as mães gostam de se sentir expostas e de levar com os olhares e comentários pelo mero acto de alimentar o seu filho? A criança tem de comer e não há nada de errado com isso. Se há quem saque do biberão porque é que as mães que optam por amamentar são penalizadas por sacar da mama? Estão a fazer mal a quem exactamente?
Suponho que os mesmos púdicos e púdicas que querem apedrejar estas mães carinhosas também fiquem prestes a desmaiar quando vêem alguém a beijar-se em público ou de mãos dadas. Lá está, mentalidade vitoriana.
Digo isto em particular à s mulheres, que acabam por ser as cràticas mais ferrenhas: parem de ter vergonha do vosso corpo. Estão a ser levadas pela mentalidade patriarcal que quer manter as mulheres “no seu lugar” e nem dão por isso. As mulheres deviam apoiar-se em vez de se criticarem. O corpo é bonito e capaz de coisas fabulosas. Não há nojo nenhum nisso.