No dia 23 de Dezembro fui comprar ingredientes para fazer os doces de natal, que nesta casa passam mais por um cheesecake diferente do de toda a gente (porque é feito com queijo fundido em vez de requeijão ou queijo creme, e que eu gosto muito mais) e tarte de natas com ananás (fica parecido com bavaroise de ananás mas dá muito menos trabalho) em vez de filhoses e sonhos. Devemos sempre iguais a nós próprios e criar as nossas tradições em vez de seguir as dos outros, especialmente quando não nos dizem nada. Aliás, o próprio natal não me diz grande coisa a não ser pela reunião familiar e pelo gozo de ver os meus filhotes com os olhinhos a brilhar a abrir as prendas. Fora isso devo admitir que é uma grande seca e só dá é trabalho, mas adiante.
Quando cheguei a casa com as compras, fui arrumar o pão na dispensa. Ao abrir a porta, esta bateu na minha bota e o meu cérebro que não se apercebeu a tempo que a passagem não tinha ficado inteiramente desimpedida, deu o OK para avançar e bati com o olho em cheio na esquina da porta. Passada mais de uma semana ainda dói e na altura foi daquelas dores agudas que nos fazem perder completamente a cabeça. Fiquei de tal forma furiosa que dei um bruto pontapé na porta – porque tal como o meu filho de 4 anos, continuo a achar que vale sempre a pena castigar os objectos inanimados quando nos magoam – e atirei com o pacote de pão para a outra ponta da casa. O resultado foi que em vez de ficar só com uma bruta dor de cabeça que acabaria por passar, fiquei também com um dedo do pé todo roxo que me deixou a coxear durante dois dias. E fiquei também a saber que isso de chocar com as portas não é só desculpa para gajas que levam porrada dos maridos. Good to know.
Apesar do pé magoado, passei o resto da manhã na cozinha a fazer cheesecake e massa para biscoitos que o Tiago ajudou a fazer quando voltou da escola.
Quando o cheesecake saiu do forno, o Pedro quis ir almoçar fora. A meio do almoço toca o telefone. Como o dia estava a correr sabia logo que não iam ser boas notàcias. Era da escola a dizer que a Joana estava com febre. Lá fomos buscar os miúdos logo depois de acabar de comer e voltei para a cozinha onde estive até à noite a fazer tabuleiro atrás de tabuleiro de biscoitos.
Quem me conhece sabe que odeio cozinhar, mas não consigo resistir à tentação de fazer biscoitos apesar da trabalheira que dá, especialmente se tiverem formas giras ou forem decorados de alguma maneira. Nunca consegui que ficassem mesmo como eu queria mas os deste ano, com massa de duas cores, ficaram muito giros mesmo sem a cobertura de chocolate colorida que nunca consigo fazer (alguém sabe onde comprar corante em pó? É que os liquidos estragam o chocolate).
A Joana estava de facto com bastante febre mas estranhamente no dia seguinte já não tinha nada. Fomos então jantar a casa dos meus tios Fernando e Isabel. O Tiago integrou-se relativamente bem com os miúdos dos meus primos e a Joana, depois de lhe passar a timidez inicial também já andava para lá a passear toda satisfeita. A certa altura estavam as outras meninas todas (que são mais crescidas) de volta da Joana a por-lhe ganchinhos no cabelo e sei lá mais o quê, como se ela fosse uma boneca. Achei o máximo 🙂
Como os nossos filhotes são os mais novos foi preciso fazer alguma pressão para acelerar a distribuição das prendas porque a tradição familiar é fazer as crianças sofrer até à meia noite (ou o mais perto possível disso), mas a Joana só tem um ano e não aguenta, e acabávamos por ter que nos ir embora sem prendas, o que seria um grande golpe para o Tiago.
A primeira prenda do Tiago foi livro de histórias infantis escrito pela irmã da minha tia. Eu adorava passar tardes a ouvir as histórias da Clara quando era miúda e acho que o Tiago também vai gostar de as ouvir, mas como não era um brinquedo, o Tiago ficou desapontado e disse logo ‘não gosto nada disto’. Decididamente o meu filho sai à mãe na honestidade brutal (ao fim destes anos todos acho que comecei finalmente a aprender que ser bem educado é por vezes mais importante do que ser honesto mas devo dizer que ainda me custa. Já estava a fazer beicinho quando recebeu finalmente dois ou três brinquedos e lá acalmou. Queria abrir logo as caixas mas por essa altura a Joana estava mais que pronta para ir para a cama e tivemos que voltar para casa.
A manhã do dia 25 foi passada a limpar a casa e preparar o resto da comida para a tarde. Fomos almoçar a casa da minha sogra e depois veio toda a gente cá para casa, incluindo os meus pais e a famàlia do meu irmão. A distribuição de prendas só começou já perto das cinco da tarde e durou até à s sete ou oito, com as pessoas a fazer pequenos intervalos para petiscar. Os doces que eu tinha feito ficaram praticamente intactos já que depois das sobremesas do almoço ninguém se queria empanturrar com mais coisas doces – outra boa razão para fazer só docer que eu gosto: sou eu que tenho de fazer o sacrifàcio de os comer quando sobra 🙂
A maior parte das prendas eram para os miúdos e foi giro vê-los a ocupar o chão da sala com toda a espécie de aviões, dinossauros, robots, bonecas, etc. O Tiago vai andar meses sem se aperceber sequer que tem alguns dos brinquedos até os encontrar novamente um dia destes.
Ugh…que dedo mais nojento…