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Estupidamente inútil

Esta noite o Tiago dormiu connosco, como é costume. A diferença é que foi logo para a nossa cama à s 10 da noite em vez de adormecer na cama dele e depois acordar a meio da noite para vir ter connosco. O Pedro estava a ter dificuldades a conseguir convencê-lo a deitar-se e quando eu perguntei se o Tiago queria que eu me deitasse ao pé dele um bocadinho, ele agarrou na almofada e no ursinho e foi para a nossa cama.

Deitei-me com ele mas o miúdo não parava quieto. Acho que acabei por adormecer antes dele e só acordei quando o Pedro, que passou a noite a trabalhar, se veio deitar pouco depois da uma da manhã. Teria ficado bastante mais irritada comigo mesma por ter adormecido em vez de passar umas horas a trabalhar também se soubesse que tinha sido a minha última oportunidade durante uns tempos de fazer alguma coisa de jeito.

Esta manhã fiz um esforço enorme por me levantar à s oito para levar o Tiago à  escola a horas. Desde que ele começou a dormir connosco que eu deixei de descansar convenientemente porque passo a noite a acordar. O miúdo mexe-se muito e o meu alarme maternal dispara logo. Por vezes acorda e faz coisas adoráveis como fazer-me festinhas na cabeça ou no braço, mas por mais adorável que seja interrompe o meu sono e eu ando tipo zombie.

Talvez por isso mesmo, quando fui fazer uma coisa tão simples como cortar uma fatia de pão para o pequeno almoço do Tiago, fiz uma coisa completamente estúpida: cortei antes uma fatia do meu polegar. A nova faca de pão super afiada que o Pedro comprou no sábado, e que corta pão como se fosse manteiga, teve alguma responsabilidade porque com outra faca não teria sido um estrago tão grande, mas o facto de eu andar meio a dormir também não deve ter ajudado.

Fui até à  casa de banho tentar parar o sangue e o Pedro foi ajudar, procurando um penso, compressas, adesivo, etc. Só que eu não posso ver sangue, principalmente o meu, sem ficar enjoada. Comecei a sentir o estomago a virar e fiquei tonta. Fechei os olhos para tentar controlar o enjoo e a próxima coisa de que me lembro é o Pedro a abanar-me. Tive um momento de confusão total em que não sabia bem onde estava ou o que se passava. Pareceu-me que tinha passado imenso tempo. Infelizmente alguma parte de mim parece ter tido uma leve noção de que estava na casa de banho porque comecei a fazer xixi pelas pernas abaixo. Afinal de contas estava sentada na sanita. É pena é que a tampa estivesse fechada. Sinto-me inteiramente preparada para a senilidade dos meus 80 anos.

O Pedro estava um bocado freaked-out, como seria de esperar. Disse-me que tinha estado a deitar-me água para a cara e a dar-me palmadas e eu não dei por nada. Tentei dizer-lhe que estava bem e para ele tratar do Tiago. Depois de me despir e de usar a sanita da forma como é suposto ser usada, lavei o chão, tomei banho e fui-me deitar um bocadinho.

Wounded thumb O penso estava encharcado de sangue e tinha o dedo frio, portanto a compressa estava apertada demais. Resolvi ligar à  minha mão, coitada, que está sempre de serviço quando acontece alguma coisa má, e ela veio cá a casa ver o estrago e fazer-me um penso decente. A ferida ainda estava cheia de sangue mas pele menos já não jorrava.

O coitado do Pedro, que se levantou propositadamente cedo para poder levar o carro à  oficina antes de ir trabalhar, acabou por ter que ser ele a tratar do Tiago e levá-lo à  escola e andou a correr atrasadà­ssimo para todo o lado por causa da minha estupidez.

Graças a esta brincadeira irritante vou passar pelo menos duas semanas sem conseguir trabalhar com arame, apertar um sotien ou fazer uma série de outras coisas simples e necessárias à  minha sanidade mental. Odeio sentir-me inútil.

Mas pronto, estamos em Setembro. Já devia estar à  espera.

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5 Comments

  1. Um post simpático (apesar do corte, escreveste de forma humorística e bem disposta), e depois, no fim, o murro no estômago.

    “Mas pronto, estamos em Setembro. Já devia estar à espera.”.

    Fónix (e isto para não dizer outra coisa, que eu sei que não estou em minha casa).

  2. vidinha says:

    Pois é, tenho exactamente o mesmo tipo de reacção quando vejo sangue, e principalmente o meu. Uma vez aconteceu-me enquanto trabalhava na discoteca, e o pior foi que tentei atravessar a pista para ir buscar pensos… o resultado não foi dos melhores.

  3. As melhoras 🙂

  4. Maria João, nem foi bem com essa intenção. Há muitos anos que acontece sempre qualquer coisa desagradável perto dos meus anos. Também acontecem noutras alturas do ano, claro, mas estas são as que ficam na memória e é difícil não fazer a ligação. Para além do óbvio, lembro-me que foi a mesma altura em que o meu irmão e a minha nora teveram um acidente de automóvel e ela partiu um braço, o ano passado passei o meu aniversário a vomitar depois de ter comido uma fatia de bolo, etc. Nunca falha.

  5. Ana Neto says:

    As melhoras.
    Há dias e dias….. 😛

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