Este ano tinhamos pensado em ir passar uns dias fora, mas por causa do trabalho o Pedro esteve mesmo até ao último dia sem saber se podia tirar férias ou não e acabou por não dar. Decidimos então ir passar uns dias à casa de férias dos meus pais, só mesmo para fugir à rotina.
Tinhamos planeado ir na segunda de manhã mas o Pedro afinal pensou que tinha que ir ao escritório e adiámos para terça. Passei a segunda a arrumar tudo e a fazer listas do que precisavamos de levar, principalmente por causa do Tiago.
Na terça de manhã, depois de quase nos esquecermos da chave, lá fomos para o Alentejo. Quando chegámos à casa tive rapidamente o primeiro choque. Tinha comprado uma cama de viagem para o Tiago porque uma das nossas maiores preocupações era reacção do Tiago a dormir num sítio estranho. Uns dias antes da viagem a minha mãe telefona a dizer que o meu primo Miguel lhe tinha dado uma cama de grades que já não precisava. Eu já lhe tinha dito que ia comprar uma mas a minha mãe faz o que quer, como sempre, e deve ter decidido que ter lá uma cama de criança era boa ideia já que tem dosi netos e isso evitaria termos que andar sempre a carregar com uma cama nossa. Tomei esta informação como um gesto de consideração da parte dela e fiquei então a pensar o que raio deveria eu fazer à cama que já tinha comprado. Decidimos ir devolvê-la já que é uma coisa cara e não ia servir para mais nada. Nunca me arrependi tanto de uma decisão.
Quando via a cama que a minha mãe arranjou fiquei sem palavras. Era uma cama antiga, com umas grades com um máximo de 20 cm de altura, ideais para o Tiago se debruçar pela cintura e cair de cabeça, algo ia fazendo na primeira noite, por volta da uma da manhã, se eu não o tivesse agarrado a tempo. Foi obviamente construida antes de haver preocupações com a segurança das crianças e ainda por cima rangia por todo o lado fazendo com que o Tiago acordasse cada vez que se virava na cama. Para além de ser um perigo a cama também não entrava no quarto e foi preciso desmontá-la e voltar a montar – como se eu não estivesse já farta de montar móveis depois das 9 estantes do quarto do Tiago.
Fiquei furiosa e passei horas com vontade de partir a cama à martelada e voltar a Lisboa para vir buscar a outra que tinhamos devolvido. Não sei porque é que continuo a confiar na minha mãe ao fim destes anos todos. Devia ter exigido foto da cama. Devia ter trazido a outra à mesma e devolvê-la só depois da viagem se não tivesse sido necessária. Devia tatuar na testa que não posso ouvir nada do que a minha mã e diz e lembrar-me que a realidade dela não é bem igual à das outras pessoas. Ao fim de 35 anos ainda não aprendi? Sou mesmo muito estúpida!
As noites foram então um tormento. O Tiago acordava com o ranger da cama e tentava sair. Tinha que o agarrar para não cair dali a baixo e acabava com ele deitado na nossa cama. Levei pontapés, estalos, cotoveladas e cabeçadas e o Pedro acabou por ter que ir tentar dormir para outro lado porque o Tiago tentava ocupar toda a cama. Foram duas noites horràveis que espero não repetir tão cedo e que me lembraram porque é que nunca quero ir para aquela casa. Para o ano vamos para um hotel.
Infelizmente os contratempos não ficartam por aà. Quando acabámos finalmente de montar a cama no quarto e fui à procura dos lençois concluàmos que a mala de viagem tinha ficado na nossa cama, em casa. Tinha a roupa, fatos de banho, fraldas do Tiago e os lençois. Não havia então outra hipotese senão o Pedro metyer-se no carro e voltar tuda para trás para vir buscar a mala. Estive com uma grande vontade de voltar simplesmente para casa mas lá fiquei, tentando entreter o Tiago até o Pedro voltar, já ao final da tarde.
Os dias seguintes, felizmente, correram melhor. O Tiago adorou a piscina e passou grande parte do tempo dentro de água. Não conseguia ficar com água até ao pescoço mais de cinco minutos porque ficava logo a bater os dentes – é o problema de não ter gordura corporal – mas gostava de ficar sentado nos degraus a brincar com o regador ou a chapinhar.
Nos dois primeiros dias acabou por dormir uma sesta encostado a mim, na cadeira da piscina. Foi um pouco incómodo para mim porque não me podia mexer mas foi bom que conseguisse dormir um bocado para não andar tão rabujento.
Como andou o tempo todo sem fralda o treino do bacio correu bem. Por pouco evitámos um incidente de cocó na piscina mas fui a tempo de o sentar no bacio 🙂
Não posso dizer que tenham sido uns dias muito descansados mas deu para ler um bocado e dar uns mergulhos que é o máximo que se pode pedir de férias com uma criança de dois anos que é preciso vigiar a cada segundo de cada 24 horas de cada dia.
Andei a ler o livro “Moab is my Washpot”, que é a autobiografia do Stephen Fry. Não sou grande fã de biografias mas o livro está muito bem escrito, no estilo elegante e divertido do Stephen Fry e gostei bastante de o ler. Agora comecei o “The Liar” que se situa no mesmo ambiente de escola privada para rapazes e que é obviamente baseado nas experiencias e observações do autor durante a adolescência.
Na quinta feira comecei a ficar impaciente. Já tinha duas ou três picadas, apesar do repelente de insectos, e uma das cadeiras da piscina tinha um ninho de vespas. Eu tenho uma certa incompatibilidade com insectos e ao fim de uns dias de ‘natureza’ começo a ficar paranoica, a sentir comichões e picadas com e sem razão. Fui arrumar a casa, lavar a loiça e meter tudo na mala. A certa altura o Tiago também já estava a ficar farto e depois de uma última brincadeira com o pai e uma mangueira, que acabou quando o Tiago virou a mangueira para a cara e lhe entrou água pelo nariz, só queria ir ver televisão e já não estava com paciencia para mais nada.
Senti um enorme alàvio quando cheguei a casa. Nada como uns dias fora para apreciarmos a nossa casinha.