As famàlias existem para nos lixar a vida. É uma daquelas verdades incontornáveis.
Desde que saà de casa dos meus pais senti que a nossa relação melhorou mas agora com o Tiago começo a ter novamente dificuldade em lidar com os meus pais.
Quando o Tiago era pequenino a minha mãe visitava-o frequentemente e chegou a ficar cá em casa a fazer babysitting enquanto eu tinha que ir tratar de algumas coisas. Mas à medida que o Tiago cresceu e deixou de ser o bonequinho de colo, as visitas começaram a ser mais espaçadas até chegar a passar-se um mês ou mais sem qualquer contacto. Recentemente, como o Tiago desatava a berrar cada vez que via a minha mãe, acho que ela começou a tentar visitá-lo e levá-lo a passear mais frequentemente para ver se ele pelo menos se lembra quem ela é.
No domingo de manhã a minha mãe ligou a dizer que ia à praia e a perguntar se podia levar o Tiago (na verdade ela pergunta se eu quero que ela leve o Tiago, sugerindo subtilmente que me está a fazer um favor e não algo que ela quer, mas ok). Eu disse que sim, claro, podia levá-lo a passear. Ela virou-se então para o meu pai para lhe perguntar o que ele achava de levarem o Tiago e oiço o meu pai responder, no seu usual tom de voz levemente irritado ‘Tu já decidiste, para que é me estás a perguntar?’
Para mim este tipo de situação é muito comum mas não inspira grande confiança. Quer dizer que não foi nada planeado e como tal é melhor eu informar-me melhor, só que quando comecei a fazer perguntas caiu a chamada. Voltei a ligar para perguntar se planeavam almoçar na costa ou se iam só de manhã e a minha mãe garantiu-me que iam só um bocadinho e depois voltavam. OK, então.
Aà apercebi-me que já tinham saàdo de casa e que a minha mãe estava a voltar para ir buscar antes a chave do outro carro que tem a cadeirinha pelo Tiago, o que confirma que o telefonema foi um after-thought e não um plano. Isto deixa-me sempre um bocadinho nervosa porque levar uma criança pequena a passear não é bem o mesmo que sair com os amigos para ir ao café. É preciso preparar um saco com fraldas, muda de roupa, água, fruta ou bolachas para o caso de haver um atraso insperado, e no caso da praia ainda é preciso barrar o miúdo com protector solar, levar chapéu e óculos escuros. Enfim, não é algo que fique feito em cinco minutos. Mas a minha mãe nunca pensa nestas coisas. Reage por impulso, sempre em cima da hora e o resto do mundo é que tem de se ajustar aos seus mood swings.
Não me passou pela cabeça dizer que não podia levar o Tiago a passear porque acho importante que o Tiago se relacione com os avós mas gostava que quisessem estar com ele porque querem mesmo estar com ele e não que fosse algo que só lhes ocorre quando já estão a entrar para o carro. A ideia que me deu foi que a minha mãe achava que eu ia dizer que não e que portanto não precisava de pensar muito nisso. Mas nesse caso porquê ligar? Há coisas que nunca vou conseguir compreender.
Aliás, à s vezes manda o meu pai ligar porque acha que se for ela eu digo que não mas se for o meu pai já digo que sim. Não sei onde foi buscar essa ideia, mas ok. A última vez que fez uma destas foi a semana passada – o meu pai liga a dizer que estão a sair para à‰vora e se quero ir com o Tiago. O que raio é que lhes passa pela cabeça? Sim, vou mesmo meter-me no carro com o miúdo durante horas assim sem mais nem menos. Enfim.
Preparei o Tiago o mais depressa que pude e a minha mãe veio buscá-lo. Esperava que regressassem à hora de almoço mas à uma da tarde liga a minha mãe a dizer que estão no fórum, porque resolveram ir ter com o meu irmão, e se devia dar sopa ao Tiago porque já estava na hora dele almoçar. O que raio é que eu podia dizer? Ela já tinha alterado o plano, resolvendo ir para outro lado em vez de trazer o miúdo a casa. A única coisa que me preocupou nesse momento foi o facto do Tiago ter de comer portanto disse que sim, claro, vê lá se ele come sopa. Sei que é muito complicado convencer o Tiago a comer por isso esperei que o viessem trazer pouco depois para ele almoçar o resto em casa.
Passaram-se duas horas. Voltei a ligar. Estava a mudar a fralda e vinha já.
Apareceram à s 3 e meia da tarde. O Tiago vinha sem calças – apesar do vento e de ter uma muda de roupa no saco – cheio de fome e sem ter dormido a sesta. Expressei o meu descontentamento mas é o mesmo que falar com uma parede.
Acho que nunca serei capaz de comunicar com a minha mãe porque as nossas personalidades são demasiado diferentes. Para ela está sempre tudo bem, corre sempre tudo bem, não é preciso planear ou prever nada. Eu gosto de saber o que me espera, dentro dos possàveis para poder aproveitar bem o pouco tempo que tenho e ter a certeza que não escapa nada importante. Acho que ela já ganhou o direito de fazer o que lhe apetece mas gostava que fosse capaz de respeitar a forma como eu faço as coisas, especialmente no que diz respeito ao Tiago.
Nós sempre tentámos manter uma rotina estável na vida do Tiago e acho que isso tem sido benéfico porque há muito que ele dorme toda a noite, evitando assim que passe os dias rabujento. A sesta é igualmente importante para que ele esteja acordado o suficiente à hora do jantar. Quando há um dia em que não consegue dormir a sesta na escola passa o resto do dia insuportável e quando nos sentamos para jantar e ele tem muito sono já não come nada. Mas a minha mãe parece achar que ele já está crescido e não precisa de sesta para nada. Acha que tudo isto é paranoia da minha personalidade controladora (que não é inteiramente incorrecto – sou de facto control-freak mas faço as coisas por um motivo lógico).
A questão aqui é que o Tiago é meu filho e como tal eu tenho o direito, enquanto ele está a crescer, de decidir como tomar conta dele e gostava que ela conseguisse respeitar isso em vez de agir como lhe apetece à espera que ninguém repare que está a ignorar completamente tudo aquilo que foi acordado e aquilo que sabe que eu considero importante.
Para além disso parece que é incapaz de se lembrar que eu podia ter outros planos. Fui obrigada a ficar em casa o dia inteiro à espera dela, tive que dar o almoço ao Tiago à s 4 da tarde, ele ainda foi dormir a seguir e só acordou quase à hora de jantar o que nos impediu de sair de casa um bocadinho que fosse. É o problema das pessoas egocêntricas. O mundo gira à volta delas e o resto que se lixe.
Sei que nada disto é assim tão importante e a razão pela qual estas coisas me irritam é impossível de explicar coerentemente. Vem de anos e anos de atrasos, imprevistos, esquecimentos e promessas quebradas, pequenas coisas que somadas deram origem a uma desconfiança constante que infelizmente parece continuar a ser justificada.
O tipo de relacionamento que aqui expressas é muito semelhante ao que eu vivo também, mas com o meu pai. A forma como terminas o texto apresenta-se como um cenário que infelizmente me é também bastante familiar…
We just have to cope…
Parece que não estou só no mundo …
Mais uma para o rol !!!!Eu pensava que era só comigo ,eu que estava errada e os outros certos!!!!como estou FELIZ……..
Porque será que as mães são umas MATRIARCAS…….
Felecidades
Pois comigo é exactamente ao contrário. Eu planeio tudo, combino com antecedência e depois qd. chego pra ir buscar a minha neta ainda tenho que ser eu a arranjar as coisas. Muitas vezes combino ir levá-la de volta pra jantar em casa e a minha filha ainda não chegou às vezes por volta das 21H.
(a criança tem 2 anos) é claro que lhe dou banho e de jantar, pq desde a 1ª vez que aconteceu telefono sempre antes de ir.
beijinhos às mamãs e às avós babadas