Os dias em que a Augusta vem limpar a casa são sempre um bocado estranhos. Primeiro porque passo grande parte do tempo a arrumar a casa porque acho que ela não tem nada que andar a apanhar brinquedos do chão para conseguir aspirar. Limpar é o trabalho dela mas ter a casa arrumada o suficiente é o meu. E depois porque ao fim do dia algumas coisas estão em sítios ligeiramente diferentes do sítio onde estavam de manhã.
Isso faz-me olhar para a minha casa de fora, como se fosse de outra pessoa. Perde um pouco aquela familiaridade que me faz olhar para certas coisas sem as ver porque estou tão habituada a que estejam ali.
Acabo por ver certas zonas como se fosse outra pessoa e ponho-me a pensar o que é que coisas como a minha mesa de cabeceira, por exemplo, dizem de mim. A mesa de cabeceira é uma zona muito pessoal da casa. É o sítio onde deixamos os objectos que nos dão conforto, que não nos importamos de ver antes de adormecer. Neste dia reparei que tinha na mesa de cabeceira um frasco de vitaminas – vazio porque senão estaria fechado na gaveta para o Tiago não se por com ideias – e uma série de livros: um livro de Sudoku quase terminado, um da Ruth Rendell chamado A sleeping life, o Frankenstein da Mary Shelley que ando para ler há meses mas nunca mais começo e dois do Neil Gaiman – o Graveyard Book que estou desejosa de começar e a BD dos Eternals que o Pedro comprou e eu resolvi experimentar a ver se gosto. Não é de facto muito variado ou interessante mas são tudo items que estão ali por uma razão muito especàfica e que dizem algo sobre mim.
Quando vamos a casa de alguém examinamos as fotografias, quadros, livros, etc e isso ajuda-nos a esboçar um perfil da pessoa. Mas não conseguimos fazer isso na nossa própria casa. Quanto muito escolhemos certas peças para destacar na esperança que passem a imagem que queremos mas nunca podemos ter a certeza se isso funciona. As pessoas que nos visitam podem só reparar que a mesa onde colocámos aquela jarra está riscada ou que está um gato a dormir na almofada que colocámos na cadeira. É mesmo assim.
Pessoalmente nunca me dei ao trabalho de decorar para os outros, até porque raramente temos visitas. A nossa casa é colorida porque gosto de cor e tenta ser prática, com muita arrumação para os quilos de livros e DVDs que acumulamos. Nunca está inteiramente arrumada (e menos ainda desde que o Tiago começou a espalhar brinquedos por todo o lado) mas é uma casa habitada, não é uma foto de revista.
Temos montes de instrumentos que não tocamos tanto quanto gostaràamos, uma passadeira onde ninguém faz exercício há 6 meses a ocupar espaço na sala e 5 ou 6 computadores debaixo da secretária.
O que é que isso quer dizer? Que temos mais entusiasmo do que persistencia e mais boa vontade do que tempo. Fora isso não sei.
Provavelmente o seres assim tão organizada, seguires rotinas e horários é um sÃndrome de primeira mãe.
Eu sou igualmente assim. E acredito que as crianças precisam dessas rotinas. E sei que o meu filho, sem sesta, fica igualmente maldisposto e que ninguém o consegue aturar.
Também sofro um pouco, não com os meus pais, que respeitam e tentam seguir os nossos esquemas/horários em relação ao neto, mas com a minha sogra.
E eu que até pensava que as pessoas dessa geração respeitassem mais as rotinas com as horas, refeições e sestas … sinceramente não entendo. E irrita-me profundamente a “leveza” com que ela encara a educação do neto.
Como se ele fosse já uma criança crescida…
Enfim…
Há que engolir alguns sapos. Não vale apena valorizar muito este tipo de coisas, porque nós é que acabamos como as más da fita e no fim ainda ficamos zangadas connosco próprias (pelo menos comigo é assim).
Boa sorte.