Como faço peças em arame, nada faz mais sentido do que fazê-las em arame de prata. A prata é mais cara do que o arame de cobre folheado mas dura mais, pode ser martelada à vontade e obviamente resulta numa peça mais valiosa que pode ser passada para a geração seguinte em ver de uma peça que é vista como algo para usar apenas durante algumas estações.
Já sabia que as peças em metais preciosos necessitam de ser contrastadas, ou seja têm de ser avaliadas por uma contrastaria e marcadas com uma marca que diz qual a percentagem de metal precioso na liga. Como sou muito certinha resolvi ler a legislação relativamente ao comércio e contraste de artefactos em prata. Como só falavam em industria e importação de ourivesaria e aquilo que planeava fazer são peças artesanais pequenas, ainda por cima em arame, que não é obrigado a ter marca na sua forma original, resolvi telefonar para a contrastaria de Lisboa para obter mais informações.
A resposta que obtive foi um choque. Estava à esper que existisse muita burocracia para conseguir obter uma licença e criar uma marca de responsabilidade mas não esperava que fosse algo quase impossível.
Disseram-me que primeiro que tudo tenho de ter 10 anos de experiencia de trabalho com metais preciosos ou um dos dois cursos aprovados pelo ministério da educação – um da António Arroio e o outro não me lembro mas deve ser o da Contacto Directo. Depois do curso preciso de ter um local de trabalho, com uma bancada de ourives que esteja de acordo com as normas. Esse local de trabalho tem de ser inspeccionado e aprovado pela constrataria. Depois disso preciso de criar uma marca de fabricante/marca de responsabilidade e só então é que se parta para a larga burocracia de licenças, etc.
Ou seja, como não comecei a pensar nisto logo aos 15 anos agora estou lixada.
Compreendo que seja importante contrastar as peças para que as pessoas se sintam seguras de que estão a comprar aquilo que o vendedor diz mas tornar esse acto tão complicado não faz sentido nenhum. Se não pertences à sociedade secreta, tough luck. E eu que pensava que estas coisas pertenciam à idade média.
Eu fiquei aparvalhado quando me disseste. Compreendo que certas profissões necessitem de ser supervisionadas por um corpo concebido para o efeito, como a Ordem dos Médicos ou dos Advogados; também compreendo que seja importante que haja uma instituição encarregue de se certificar que quem diz que vende prata está efectivamente a vender prata e não plástico cromado.
Mas não compreendo esta espécie de “ordem dos ourives” como descreves. E como se obtém 10 anos de experiência… se é ilegal vender metais preciosos não constrastados e para obter o contraste é necessário ter, entre outras coisas, 10 anos de experiência a trabalhar os ditos metais?
Só mesmo sendo aprendiz de ourives durante uma década?
Como dizes, isto tudo parece-me terrivelmente medieval.
Mas não podes vender sem contraste? Só compra quem quiser. Olha, eu com a minha orelha alérgica, só posso usar brincos que não sejam prata ou ouro por dois dias seguidos, depois fico com um orelhão gigantesco. E como prefiro brincos artesanais aos de ourivesaria, ando sempre à procura deste tipo de peças em prata, nas feiras de artesanato e nas bancas de rua. E nunca me preocupei se têm contraste ou não.
Tomei a liberdade de falar com um colega meu que faz peças de joalharia e diz-me ele que só precisas de contrastar o fio de prata se pretenderes vender as peças em ourivesarias. Confirmou que, neste caso, são precisos os tais certificados todos de que te falaram. Mas para o tipo de trabalhos que fazes não é necessário.
Grinch, o problema é que, tanto quanto sei, só as ourivesarias é que podem vender legalmente peças em ouro ou prata. Sei que estava a ser desenvolvida uma proposta para ser alterada a lei de forma a deixar as lojas de bijutaria venderem também peças em prata mas não sei se isso já foi para a frente ou não.
Mas se estou enganada ficarei muito feliz. A minha questão é só que não quero estar a anunciar que vendo peças em prata e ter problemas com isso. Eu passo factura, pago IVA, etc e queria fazer tudo de forma legal porque não me interessa fazer nada que venha a comprometer a minha empresa por uma razão tão idiota como falta de informação. Mas no nosso paÃs para se obter informação sobre seja o que for é uma dor de cabeça e mais tarde levamos com o tÃpico ‘ah, mas devia saber’