Ontem de manhã o meu pai ligou para dizer que a minha mãe tinha tido um dos seus ‘ataques’ na noite anterior. Já tinha enviado um SMS de manhã cedo mas no meio da confusão matinal que é alimentar o Tiago e arrumar a cozinha não tinha dado por nada.
Para clarificar, os ataques da minha mãe são causados por uma arritmia cardàaca que ocasionalmente dão origem a perda de consciencia e até paragem cardàaca. Já teve de ser reanimada e esteve internada e por isso é sempre um grande pânico quando começam a surgir sintomas novamente porque num caso mais grave, sem intervenção médica imediata não há grande coisa a fazer.
O meu pai disse que a minha mãe tinha ido ao dentista no dia anterior fazer uma cirurgia dentária complicada e tinha-se sentido mal durante a noite, com vómitos e desmaios. Como disse também que ela tinha ficado a dormir e que ele já estava a chegar a casa parti do principio que estava tudo controlado e decidi passar lá por casa de tarde quando o Tiago acordasse da sesta.
Só que quando cheguei ela não estava melhor. Não se conseguia mexer sem nauseas, estava com a cara inchadàssima por causa do dente, ao ponto de estar quase irreconhecàvel, continuava a vomitar e a desmaiar e não tinha conseguido manter nada no està´mago, incluindo làquidos, há quase 24 horas. Cheguei a assistir a uma dessas crises durante a minha visita e achei que não fazia sentido nenhum estar para ali à espera que aquilo passasse por si porque o risco era demasiado grande. Comecei a fazer sugestões e a tentar arranjar uma solução. Sugeri motilium ou algo semelhante para ver se pelo menos os vómitos paravam e ela conseguia beber qualquer coisa mas como não conseguia engolir o comprimido sem vomitar só havia a possibilidade do injectaval. O problema aqui era não haver ninguém com experiencia para dar a injecção.
Liguei aos meus sogros mas eles estavam nas compras por isso parecia que a única hipotese era chamar uma ambulancia para ver se no hospital lhe davam a injecção e um bocado de soro.
A ambulancia demorou uma eternidade e o Tiago estava a ficar muito irrequieto, em parte porque acho que se apercebeu que não estava tudo bem, e acabei por ter que me ir embora. Senti-me mal por deixar o meu pai sozinho a tratar de tudo mas não tinha grandes hipoteses.
Liguei passado um bocado e já tinham chegado ao hospital mas o meu pai não sabia de nada. Passada hora e meia recebo um telefonema a dizer que a minha mãe se fartou e saiu do hospital. Considerando que ela mal se conseguia mexer achei isto muito estranho.
Quando eles chegaram a casa disseram que a minha mãe tinha passado essa hora e meia nas urgencias do hospital sentada numa cadeira à espera de ser atendida, mesmo depois de se ter identificado como médica, ter descrito a história clànica toda e dito o que precisava. Disseram-lhe que não podia fazer nada e tinha de esperar pelo médico e nem deram por nada quando ela voltou a desmaiar.
Ou seja, se estiverem mal evitem as urgencias do Garcia de Orta a todo o custo.
Por esta altura achei que a única hipotese era irmos nós comprar a injecção e por isso voltei a falar com os meus sogros que se ofereceram para ir lá administrar a dita.
Hoje de manhã já se estava a sentir melhor, já tinha comido e não voltou a vomitar, por isso parece que o pior já passou. Tanto quanto percebi foi um caso de reacção à anestesia do dentista que despoletou o resto. Esperemos que ela não precise de fazer nada do estilo nos próximos tempos. E o coitado do meu pai deve ficar de rastos depois de ter que lidar com estas coisas, ainda por cima sozinho.
Acho que na minha familia são todos demasiado orgulhosos para pedir ajuda e isso só complica. A minha mãe prefere passar um dia inteiro a sentir-se mal antes de admitir que há qualquer coisa que possa ser feita e o meu pai vai aguentando sem saber o que fazer e sem dizer nada a ninguém. Sei que agora é capaz de ser um bocado tarde para mudar atitudes mas bolas! É para estas coisas que serve a famàlia! Não digo que eu possa fazer grande coisa mas pelo menos posso tentar. Preciso é de saber o que se passa.
A tua mãe teve azar: as urgências do Garcia da Orta salvaram a vida ao meu Pai há dois anos atrás. Infelizmente, adiaram apenas o inevitável: ele viria a falecer um ano depois com o mesmo cancro que originara essa visita ao hospital…