É obvio que me tornei mãe há algum tempo atrás mas ultimamente tenho visto a situação de outra forma.
Dou comigo a imaginar que imagem é que o Tiago tem de mim agora que passo o tempo na cozinha a preparar as refeições dele enquanto ele está na sala a ver o Pocoyo. Pra ele tudo isso é muito natural. Eu sou a chata que lhe diz que está na hora de comer, de lavar as mãos, de tomar banho, de ir dormir, que lhe desliga a televisão, que não o deixa brincar com tesouras. Eu, que evitava passar mais de 10 segundos na cozinha de cada vez agora tenho de andar a olhar para o relógio para poder ir preparar a comida dele na hora certa – comida esse que felizmente não tenho que ser eu a cozinhar – isto de ter um marido que cozinha dá montes de jeito. Ou seja, passei a transmitir uma imagem de domesticidade que vai inteiramente contra o meu instinto porque agora é preciso fazer essas coisas pelo Tiago.
É claro que quando chega a vez de eu comer agarro mais facilmente num pacote de bolachas e num copo de leite do que vou fazer comida para mim, mesmo que seja só fazer massa para acompanhar a bolonhesa que já está pronta no frigoràfico. Mas essa parte o Tiago não vê porque está a dormir a sesta.
No fundo sinto-me um bocado uma fraude mas também me ajuda a compreender melhor que os meus pais e os pais dos meus amigos quando eu era pequena sofriam potencialmente do mesmo mal, que essa coisa de ir cozinhar o jantar era uma grande seca para eles e só o faziam porque tinham de o fazer.
É claro que isso não é uma conclusão nova para mim. Aliás, assim que eu e o meu irmão nos tornámos mais crescidos passou a ser mais ‘olhem, têm ovos e fiambre no frigoràfico, façam uma omelete para o almoço’ e pronto. Já estão crescidos, desenrasquem-se. Isso resultou em duas personalidades distintas: eu odeio cozinhar e o meu irmão adora, porque se tinha de ser ele a fazer a comida isso dava-lhe liberdade de fazer o que gostava em vez de ter que aturar aquelas coisas nojentas que nos obrigavam a comer como mioleira e o coelho que estava vivo na noite anterior e a quem eu tinha feito festinhas. A minha relação com comida nunca mais foi a mesma. Mas durante a infancia havia aquela ideia da mãe que trata de tudo e que o faz porque é assim mesmo.
É então interessante ver agora quanto uma pessoa altera o seu comportamento natural para bem dos filhos e faz coisas que normalmente detesta sem sequer se queixar muito porque agora têm de ser feitas. Mas isso vai criar uma noção falsa da realidade nos nossos filhos. O que eles vêm é uma mamã que gosta de passar o tempo na cozinha a preparar comida e lavar a loiça em vez de uma mamã que passa o tempo na cozinha a desejar ter dinheiro suficiente para contratar alguém para fazer aquilo por ela e só o faz porque gosta muito do seu filhinho e quer o melhor para ele.
Mas ser mãe é uma decisão nossa e não requer compreensão nem adoração por parte dos filhos. Nós é que os adoramos a eles e se fizermos um bom trabalho pode ser que eles não nos odeiem muito quando passar finalmente aquela parte chata da adolescência.
Olá,
Acho que assim é que deve ser, para ele escrever num hambiente responsavel, com regras, rotinas, etc. Claro que quando for adulto, tambem ele vai comer bolachas em vez de jantar, mas tem bases solidas.
Por isso é que so irei ter filhos na altura em que estiver disposta a todas essas mudanças, porque faço questao de manter rotina e regras na vida deles.
Beijinhos
Mafalda
Tens muita razão naquilo que dizes; a imagem que passamos para os nossos filhos é mesmo essa; no meu caso, não desgosto de cozinhar mas confesso que nem sempre o faço de bom grado. Curiosamente, após quase um ano em casa, comecei a tomar o gosto a ser mãe e dona de casa ao mesmo tempo e não é que agora me está a custar imenso voltar o trabalho?
Acho que é mesmo uma tarefa gratificante, o de ser mãe e espero igualmente que os nossos filhos cresçam a amar-nos como os amamos a eles!
Bjs