No dia 25 de junho foi o aniversário da minha mãe que nos convidou a jantar no indiano. Este ano até me ocorreu uma prenda gira (porque comprar prendas é mais complicado a cada ano que passa) e o restaurante era perto de casa o que dá imenso jeito quando se sabe que a certo ponto vai ser preciso ir meter o miúdo na cama.
O problema é que o Tiago já anda e por isso acabou-se aquela coisa de o ter sentado no carrinho ou ao colo durante a refeição. Quando tentámos sentá-lo numa cadeira alta para bebés desatou a berrar e tivemos de desistir da ideia. Ele só queria ir explorar e por isso passei o jantar todo atrás dele pelo restaurante fora a tentar evitar birras e quedas pelas escadas abaixo.
Em resumo: acabaram-se os restaurantes até ele conseguir parar quieto ou alguém se oferecer para estar de serviço porque eu não tenho paciencia para isto.
E ainda por cima a comida não era o que eu queria. Há dias em que não temos mesmo sorte nenhuma.
Não gosto de dar conselhos, especialmente quando não tenho experiência suficiente na matéria. O contacto que tenho tido com crianças dessa idade tem sido esporádico e por perÃodos curtos.
No entanto, quer a minha companheira, que tomou conta de crianças com idades desde os dois meses aos nove anos, quer outras pessoas com quem falo sobre o assunto, me têm dito que para evitar as birras só há um método. No momento da birra, em público, ignorá-la completamente, deixando a criança fazer birra (desde que esta não se torne destrutiva ou perigosa, obviamente), avisando-a apenas que receberá o castigo correspondente quando chegar a casa. Custa estar em público numa situação embaraçante mas é para um bom fim. Depois, em casa, aplicar o castigo que for usual. Se a birra é em privado, nunca ceder à s reivindicações, mesmo que estas sejam justificadas — ceder a uma birra é receita certa para a criança aprender que as birras dão resultado. Quando a birra acabar, aplicar o castigo. Repetir esta receita até a criança deixar de fazer birras (pode demorar algum tempo, dependendo do seu sucesso anterior com este comportamento).
Apesar de a minha filha já ter sete anos quando a adoptámos, também era bastante teimosa e, no inÃcio, fez algumas birras, felizmente mais em casa que em público. Comigo, em público, apenas fez uma no comboio e outra na escola (e aqui até tinha uma certa razão). Deixei-a chorar e gritar e fazer aquele espalhafato normal nestas situações, tendo-a informado logo de inÃcio que estaria de castigo à noite. Em casa, as birras eram usualmente mais violentas e barulhentas, mas a única medida que tomava era simplesmente mandá-la para o quarto com a indicação de que, quando acabasse a birra podia voltar para baixo. Depois vinha o castigo (com ela resulta a privação de televisão, mas YMMV). Hoje não faz birras, pelo menos connosco.
As crianças precisam de atenção e de “favores” nossos. Se a indicação que lhes damos é que uma birra é um bom caminho para os conseguir, ela irá utilizá-la sempre que julgue necessário.
Sei perfeitamente que a forma mais eficaz de lidar com birras é ignorá-las. É o que vem em todos os livros e é o que tento fazer sempre que possÃvel. A questão é que o Tiago é muito pequeno. A idade das birras a sério começa geralmente por volta dos 18 meses. O Tiago só tem 15 e o que faz são pequenos protestos que passam depressa e que estão geralmente associados a coisas como querer testar as suas novas habilidades, tal como andar em vez de ter de ficar duas horas sentado à mesa num restaurante, o que do meu ponto de vista é perfeitamente legÃtimo. Ou seja, ele não está a portar-se mal nem a insistir em fazer algo proibido. Está a exercer o seu direito de liberdade o que infelizmente pode ser um bocado incómodo para nós no momento mas não acho que castigá-lo por isso seja uma decisão acertada.
Não cedo quando ele quer algo que não deve fazer ou que pode ser perigosa mas não quero ser demasiado castradora quando é apenas uma questão do meu conforto momentaneo e o que ele quer não faz mal a ninguém.
Para além disso, aplicar castigos antes dos dois anos é absurdo porque eles ainda não têm compreensão suficiente para ligar os dois actos. Castigos que não sejam imediatos então é absolutamente impensável porque não há qualquer relação entre causa e efeito.
O problema é exactamente esse. Ele ainda está numa idade em que é preciso usar senso comum e não limitar-me a seguir cegamente aquilo que é tido como ‘a única forma de lidar com birras’.
Tens razão, 15 meses ainda é muito cedo para castigos complexos e sim, temos que tentar sempre ter o bom senso de perceber o que é uma birra e o que é apenas um natural desejo de experimentar e ser livre. Não é suposto uma criança dessa idade ficar duas horas quieto no mesmo sÃtio 🙂
Desculpa pelo sermão, foram apenas as minhas sirenes de alarme a soarem depois de ter visto demasiadas crianças birrentas por culpa evidente dos pais.