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Tenho andado sem vontade para escrever, especialmente porque sinto que acabo por dizer sempre a mesma coisa. Estou canssada, sem energia e o meu cérebro já deixou de funcionar há algum tempo. Tenho dificuldade em encontrar as palavras que preciso para coisas rotineiras e sinceramente já nem me preocupo muito com isso tirando o facto de sentir que estou cada vez mais estupidificada.

Continuo a tentar ir fazendo umas peçazitas de vez em quando e ir actualizando a loja porque é a única coisa que me dá algum sentimento de acomplishment (mais uma vez não estou para estar aqui a tentar lembrar-me da palavra. Habituem-se.)

Estou a chegar à quele ponto em que ser mãe está a absorver-me por completo e já não sei bem quem sou. É como se não existisse sem o Tiago. Quando ele está a dormir tento não fazer barulho e estou sempre alerta, à  espera da hora dele acordar, e mesmo quando os meus sogros o vêem buscar continuo com essa sensação de estar à  espera que aconteça qualquer coisa. Não consigo simplesmente relaxar e muitas vezes penso que oiço o Tiago chorar quando ele nem está cá.

Para além disso, este ano tem sido um grande teste da minha relação com o Pedro, já que o cansaço e a falta de tempo não são propriamente compatà­veis com intimidade. Não há dúvida que é um ajuste muito grande.

Sempre me perguntei se me iria transformar numa daquelas pessoas que não consegue conversar de mais nado a não ser dos filhos mas já percebi que é inevitável, especialmente quando não se consegue fazer mais nada na vida. Já não faço ideia que filmes ou discos estão para sair e escusado será dizer que fui ao cinema só uma ou duas vezes este ano. Fomos almoçar com o meu irmão e a minha cunhada Ana um destes fins de semana e a Ana estava a comentar como teria que fazer uns ajustes à  sua rotina matinal quando tivesse o bebé. Não disse nada na altura porque há coisas que temos mesmo que ver para crer, mas quando se tem uma criança é preciso mudar muito mais do que estava à  espera e penso que embarquei nesta coisa da maternidade com espectativas bastante realistas. Mas é sempre um choque o quanto se tem de mudar efectivamente. É claro que eu não sou um caso tà­pico porque não vou para o escritório todas as manhãs e por isso levo com tudo em cima – momentos bons e momentos maus, todas as birras, todas as refeições, todas as lutas para ir para a cama, o que torna tudo  muito mais cansativo. Naqueles dias mesmo maus até parece que passar os dias em frente ao computador seria o paraà­so. Mas é claro que é mentira. Odeio o stress de ter que lidar com clientes, das reuniões, dos prazos. Ando há anos à  procura de um emprego de slacker, com responsabilidade nula. O problema é que esses empregos pagam tão mal que nem compensava o que tinha de pagar de creche. Mas mesmo os empregos de designer com curso superior pagam mal. Nesse aspecto o nosso paà­s é um nojo. Ter um curso já não vale nada.

Ando a lutar com este dilema há algum tempo. Há dias em que sinto que preciso de arranjar um emprego normal porque é injusto que o Pedro seja responsável pela totalidade da responsabilidade financeira. Eu até conseguiria colaborar mas há alturas em que me apercebo que praticamente tudo o que ganho com as peças que faço vai para pagar o IVA e o PEC, o que me parece absurdo a um nà­vel inexplicável. Por outro lado, se dissolver a empresa e me inscrever a recibos verdes o mesmo valor vai inteiramente para pagar a segurança social, por isso não sei o que é pior. O  Estado é completamente anti pequenas empresas.

Mas estivemos a fazer as contas e o salário médio de um designer hoje em dia é tão baixo que serviria apenas para pagar a creche, os almoços e os transportes e duvido que sobrasse algum. Portanto ficava com menos tempo, tinha que pagar a alguém para fazer de mãe substituta para o meu filho e em termos práticos não ganhava grande coisa com isso. É lixado.

Mas pronto. Basta de me queixar por hoje que isto já enjoa.

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5 Comments

  1. Inês says:

    Após o nascimento da milha filha fiquei 6 meses em casa e já estava a perder o juízo! Na minha opinião foi muito saudável para ambas voltar a trabalhar – com um aparte, a creche onde ela anda é do trabalho do pai, com um valor mensal muito atraente…, mas ainda que não fosse, acho que voltaria sempre.
    E só uma pequena sugestão: porque não por o teu filhote numa creche a tempo parcial (manhãs é o mais normal). Há sítios que permitem isso por um preço diferente – ficas com mais tempo para ti e para o teu trabalho e ele ganha um monte de amigos novos, com quem aprenderá certamente coisas diferentes daquelas que lhe podes proporcionar. Não sei se é boa ideia, mas é mais uma ideia.
    Fiquem bem, como uma vez alguém disse, “ambos os 3″…

  2. “este ano tem sido um grande teste da minha relação com o Pedro, já que o cansaço e a falta de tempo não são propriamente compatíveis com intimidade.”

    Muito, muito obrigada por isto 🙂 Começava a achar que era só eu.

  3. Tudo o que disseste, todos esses dilemas, são extremamente válidos…aliás, acho que cada vez há mais mães a pensar como tu (e eu). Se por um lado gostamos de ser mães e estar em casa com os filhotes, por outro lado, o “factor canudo” pesa na estante e a falta de outro ordenado pesa no orçamento.
    Eu, daqui a pouco menos de 3 meses volto ao trabalho e até lá, espero um “milagre” para não ter de voltar…afinal, tem sido tão bom estar em casa e a ganhar à mesma!
    Será que não nos podem pagar para sermos mães a tempo inteiro?

  4. Obrigado Dee. Já começava a pensar que era só eu. Deixei de trabalhar há 8 meses para ficar com o meu filho, se não me suicidar antes, este período durará 3 anos. Há dias em que acho que sou a mulher mais sortuda do mundo, outros em que penso que estupidifiquei definitivamente e nunca mais vou recuperar a pessoa que eu era….You are not alone.

  5. dee 2 says:

    Eu ainda não acabei o curso de design e já o acho uma treta. Ando desmoralizada…é melhor ir-me habituando pelos vistos!

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