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Acessibilidade e a hipocrisia do governo

Desde que comecei a pensar em usar uma cadeira de transporte para o Tiago, quando ainda estava grávida, que me apercebi com mais clareza do que até aà­ da forma como a cidade de Almada e especificamente a zona de Cacilhas está feita de forma a ignorar as necessidades de pessoas em cadeiras de rodas e outras formas de mobilidade reduzida.

Os prédios de um dos lados da Av 25 de Abril têm imensos degraus e apesar de ser possivel circular pelo outro lado da rua que é mais a direito, muitos dos prédios desse lado não têm elevador. Isso faz-me pensar que quem projectou esta zona, nos anos 60, não queria que vivesse cá ninguém cujas peninhas não estivessem completamente funcionais.

Mas pronto, nos anos 60 não havia as regras que há hoje, os elevadores eram provavelmente um luxo que só prédios mais altos tinham direito e se ainda hoje é preciso leis para impor determinadas condições de acessibilidade, nessa altura devia ser semelhante.

Aquilo que me faz mais confusão é exactamente a questão das regras que foram criadas entretanto e a forma desigual como são impostas. Por exemplo, qualquer clà­nica médica tem obrigatoriamente de ter uma casa de banho acessà­vel por cadeira de rodas e se por acaso não for situada num R/C e não tiver elevador, tem de instalar uma daquelas cadeiras elevatórias que correm ao longo da escada.

Concordo plenamente com isto porque faz sentido que uma clà­nica seja acessà­vel por todos, apesar de saber que estas regras fizeram com que abrir uma clà­nica se tornasse praticamente impossivel para muita gente devido ao investimento necessário.

Mas o que não compreendo é o seguinte: estas regras não deveriam ser absolutamente obrigatórias para todos os serviços públicos? É que clà­nicas privadas há muitas e as pessoas têm escolha, mas ninguém pode escolher em que repartição de finanças se inscreve, por exemplo. Tem de estar inscrito na repartição de finanças da sua área de residencia e tem de pagar impostos todos os anos. E apesar de já ser possivel entregar o IRS online e tratar de outras coisas tanto online como por correio, não acredito que seja possivel não ter de ir pelo menos uma única vez na vida a um serviço deste tipo, nem que seja para obter informações.

Assim sendo fica confirmada a minha suspeita de que há uma conspiração contra pessoas em cadeiras de rodas em Cacilhas visto que a repartição de Finanças da freguesia está situada num segundo andar acessà­vel explusivamente por escadas.

Não teria o governo obrigação de resolver estas questões rapidamente? No minimo deveriam ser obrigados a instalar uma das tais cadeiras elevatórias que impõem à s clà­nicas. É muito giro dizer aos outros o que têm de fazer e negar licenças com base nessas regras e depois não as impor ao serviços que as dita. Acho escandaloso.

Em termos de mobilidade nas ruas, devo admitir que as obras do metro parecem estar a melhorar o problema, rebaixando o passeio na zona das passadeiras, por exemplo, mas não vai servir de nada porque não colocaram pinos e vai haver carros escaionados por todo o lado assim que as obras acabarem – na verdade já há quem use o passeio rebaixado como a sua plataforma pessoal para subir o passeio. Gostava de saber se são assim tão idealistas quando fazem estes projectos que nem lhes ocorre que as pessoas se vão comportar como sempre ou se isto é propositado para poderem ganhar mais uns cobres com as multas.

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3 Comments

  1. grande post, so true indeed!

  2. Este país não tem emenda.

  3. Catarina says:

    As normas de acessibilidade aplicam-se aos edifícios públicos, que tinham uma porrada de anos para as porem em prática desde a aprovação da legislação. Esse prazo já acabou e nada, continua tudo na mesma! E a delegação de saúde acha perfeitamente compreensível a situação no público (“Imagine os custos envolvidos”), só no privado é que é inflexível (quem quer abrir o seu negócio é porque deve ser podre de rico…).
    Acrescento que eu estive agora em Barcelona (viva a Vuelling!), com a minha filha de 2 anos e é incomparável. Desde as passadeiras – não há uma que não tenha rampa para os carrinhos – aos autocarros, consegue-se sempre circular! A única excepção é alguns acessos ao metro, mas estão anos luz à nossa frente.
    Enfim, não vêm perspectivas de melhoras…

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