Estou há dias a tentar ganhar coragem para escrever qualquer coisa e ainda não tinha conseguido. Cada vez que começava a pensar no que queria escrever ficava deprimida e adiava mais uma vez. Mas acho que há coisas que são demasiado importantes para deixar passar e não consigo escrever nada mais recente se não mencionar primeiro o passado fim de semana.
Sexta feira dia 7 foi o segundo aniversário da morte do meu primeiro filho. Não é algo que esteja alguma vez muito longe do pensamento mas já passou tempo suficiente para poder dizer que já não penso nisso todos os dias. O que não quer dizer que doa menos.
Só que as datas têm a tendência para trazer tudo de volta como se fosse ontem e dois anos não é tempo suficiente para fazer assim tanta diferença.
Passei a manhã a tentar estar bem disposta porque não quero que o Tiago se sinta mal ao ver-me triste. Ele não tem culpa de nada e eu vou sempre fazer os possiveis por lhe dar uma infancia feliz. Mas assim que ele adormeceu comecei a sentir-me deprimida e, apesar do Alex ter sido o meu primeiro pensamento nessa manhã, por um bocadinho ainda fiquei a questionar-me porque raio me sentia tão mal de repente. Estava ocupada a arrumar a casa e era uma coisa que ia tomando conta de mim sem eu ter consciencia do porquê. É claro que assim que pensei ‘porquê’ levei com a resposta com toda a força e tive de me sentar um bocadinho e deixar as lágrimas correr. Não consegui voltar a sentir-me completamente normal até agora mas tenho feito um esforço. É mais facil fingir-me normal quando estou com alguém mas passo mais tempo sozinha do que acompanhada.
Por mais que queira deixar para trás algo que foi muito doloroso e uma perda insubstituivel, há quase diariamente qualquer coisa que me faça pensar nisso, principalmente por causa do Tiago. Não consigo deixar de pensar que diferenças ou semelhanças teria ele em relação ao Alex, se se iriam dar bem, todas essas coisas. Ao mesmo tempo acredito que se o Alex não tivesse morrido o Tiago não existia porque eu não teria engravidado tão depressa, e isso causa-me alguns sentimentos de culpa.
Reparo também em certos comportamentos que não são inteiramente normais, como por exemplo no facto de me querer livrar das roupas de bebé assim que deixam de servir ao Tiago em vez de as querer guardar como acontece a muitas mães. Só que, apesar de agora terem servido o seu propósito, a maior parte foram compradas para o Alex e não consigo olhar para elas sem pensar nisso. Há um constante sentimento de vazio que nunca vai mudar.
Uma das partes piores de tudo isto é o facto do meu aniversário ser no dia 8. É óbvio que nunca mais me vou sentir com vontade de festejar o meu aniversário. Também é horrivel a forma como sei sempre que idade têm outras crianças porque sei que nasceram por volta desta data há dois anos. Aliás, tudo o que aconteceu há dois anos parece ter ficado cravado para todo o sempre no meu cérebro, por mais insignificante que seja.
Aparentemente as pessoas pensam que por já ter passado algum tempo e agora ter o Tiago que alguma coisa mudou e que pensar em tudo isto é meramente render-me a um sentimento nostálgico. É impossível explicar que aquilo que senti há dois anos nunca vai mudar e que constantemente penso no que estaria a fazer agora se o Alex estivesse vivo, como é que eu seria diferente. Sei que tudo isso é inútil mas não o consigo evitar.
O meu aniversário foi então um sábado como todos os outros. Levámos o Tiago a passear ao parque e de resto tentámos ignorar o assunto.
No domingo ocupámos o nosso tempo a limpar a casa até à exaustão total por necessidade e também como forma de passar o tempo e acabar de vez com este fim de semana infernal.
Olá. algum tempo que acompanho o seu blog e do Pedro.
Nunca escrevi nada mas desta vez gostaria de deixar um beijinho aos três
E já agora PARABENS!!
muito sinceramente não acho nada que os teus comportamentos não sejam inteiramente normais, antes pelo contrário, dadas as circunstâncias são mais do que normalÃssimos, são cheios de força e coragem e de uma sanidade invejável, sinceramente acho.
Pelos vistos já passaram quase dois anos desde que eu sigo a sua rotina. Não me orgulho muito disso porque me sinto um bocado para o bisbilhoteiro mas a verdade é que é a única pessoa que eu “conheço” que passou por uma situação parecida à minha e por isso não consegui deixar de acompanhar a maneira como descrevia o que estava a passar porque de certa forma quase sempre me tirava as palavras da boca. Quando pensei que ia deixar de espreitar a sua vida então não é que temos as duas bebé com poucas semanas de diferença? Acabo por clicar de vez em quando para comparar a evolução dele e dela. E hoje por causa do seu post fiquei uma vez mais a pensar no quanto a morte da minha filha mudou a minha vida e me mudou a mim. Pois é.
Aconteceu há dias o mesmo que aconteceu a vocês, um conhecido meu ia ter o 2º filho e morreu dias antes do nascimento da mesma forma. Só de pensar que à minha sobrinha podia ter acontecido o mesmo, nasceu 15 dias antes desse dia fatal e vinha com o cordão com um nó no pescoço, o que a salvou foi nascer de cesariana. Se fosse num hospital publico não teria qualquer hipotese, ainda bem que existem os seguros de saude.