Antes de engravidar achava que não tinha instinto maternal. Não achava piada nenhuma a crianças e não sabia se conseguiria ser mãe com sucesso. Toda a gente me dizia ‘ah isso muda, depois logo vês’ mas ninguém me conseguia explicar exactamente como muda. Mudo de personalidade é? Não acredito nisso, pensava.
Já falei nisto num post anterior. De facto uma pessoa não muda propriamente. Acho é que se torna mais permeável a certos sentimentos e passa a ter mais empatia. Ou seja, há uns tempos podia ver um filme em que raptam o filho do heroi e ele tem de o salvar e não me dizia nada. Não era mais do que a motivação costumeira para fazer avançar a história. Mas agora compreendo porque é que é uma motivação tão forte. O instinto protector é tão forte que se for preciso bater numa criança de 6 anos para proteger o nosso filho não se pensa duas vezes. Aliás, quando andava na pré-primária bati numa menina de 5 para proteger o meu irmão por isso pode-se dizer que não seria nada de novo 🙂 É claro que eu também tinha 5 anos, o que muda um bocado as coisas, mas mesmo assim.
Basicamente o que quero dizer é que o instinto maternal ou instinto protector nasce com a criança e não se pode devolver. E não nos muda propriamente mas é um bocado como lavar acidentalmente umas cuecas azuis escuras com a roupa branca – acaba por tingir tudo o que está à volta. Por isso já não posso ver um filme ou série de TV em que há uma criança doente ou em perigo ou algo do estilo sem sentir empatia com os pais ficticios, sem sentir uma grande necessidade de resolver essa situação. É um bocado horrivel uma pessoa tornar-se lamechas desta maneira, assim sem aviso. Até já acho giros miúdos que não conheço de lado nenhum – já não é só o meu. É mesmo muito estranho.
Quero com isto dizer que os filmezinhos que me davam gozo ver agora são um sofrimento. O ER já não consigo – há sempre um bebé doente em cada episódio e é um tema demasiado próximo – e estava ontem a ver o Saw III e a sentir-me bastante mal quando normalmente não me faz impressão nenhuma. Aliás, vi os dois primeiros sem a menor preocupação. Agora fiquei ansiosa o resto da noite apesar de termos parado o filme a meio porque o Tiago acordou. Se calhar é por isso – sei que ainda está ali à minha espera.
Concordo contigo, acho que a maternidade nos muda de uma forma ou de outra e nisso dos filmes não posso estar mais de acordo, realmente. Antes via de tudo e então suspense e terror era “venham deles” e agora já não consigo. Claro que já não vou ver o Hostel 2…já o primeiro não consegui….
Fica bem!
Cheguei aqui clicando em tantos links que não saberia te dizer de onde vim. Mas enfim, vamos ao comentário:
Eu também não tinha esse sentimento até que nasceu minha filha. Da noite pro dia passei a me preocupar com muitos detalhes que eu não me preocupava anteriormente. Hoje também não consigo ver crianças sofrendo e certos temas pra mim já não são mais tão banais. Ou seja, tornei-me um frouxo sentimental. Mas não me arrependo.
Fazer o quê? É a vida, e melhor assim do que ignorar estes detalhes tão importantes. Não é mesmo?
Grande abraço!
Também te posso dizer que, à medida que o Tiago for crescendo, essa impressionabilidade (acho que acabei de inventar uma palavra) se vai atenuando. Nunca mais vais ver um filme de terror com o mesmo espÃrito, mas vai deixar de te fazer tanta mossa como neste momento. Quanto à s histórias com crianças… esquece. Há onze anos que se me eriçam os pelinhos todos e fico de lágrima no olho devido à s desgraças infantis. E mais ainda no teu caso. O meu foi menos violento mas, seja como for, tudo o que diga respeito a crianças e a grávidas com problemas, descompensa-me o nervo.
É a vidinha de mãe.
Beijinhos.